v. 8, n. 2 (2015)

DOI: 10.3895/rbect.v8n2

O volume 8 da RBECT é inaugurado com uma edição especial elaborada com artigos selecionados entre os apresentados, em 2014, no Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia (SINECT), evento cientifico vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciência e Tecnologia, assim como esta revista.

 

Nesse momento o que está em foco é o SINECT, por estar nutrindo a comunidade cientifica com espaço para debate e reflexão sobre as pesquisas que têm a sala de aula como objeto de investigação e cuja sustentação teórica situa-se nas contribuições da ciência e da tecnologia. Destaca-se, também, porque em apenas quatro edições já desponta como um fórum de discussão e produção de conhecimento de ensino ao congregar pesquisadores e estudantes brasileiros num amplo campo de abrangência organizado em 12 áreas temáticas: ensino de física, ensino de biologia, ensino de química, ensino da matemática, ensino de estatística, Ensino de Ciências nos Anos Iniciais, Ensino de Ciências, Educação Profissional e Tecnológica (EPT), Educação Científica e Tecnológica e Estudos CTS, TIC no Ensino-aprendizagem de Ciências e Tecnologia, Linguagem e cognição no ensino de ciência e tecnologia, Ciência, Arte e Teknè: uma abordagem interdisciplinar.

 

Dessas 12 áreas temáticas, após um rigoroso trabalho das comissões científicas do evento, e posteriormente dos revisores desta revista, foram selecionados artigos que se sobressaíram pela pesquisa desenvolvida e pela sua exposição, com conteúdo e forma para um periódico. Senti-me honrada ao receber o convite para assinar esse editorial e com satisfação apresento os 15 artigos que compõem esse número.

 

Os dois primeiros textos que inauguram essa edição contemplam a formação de futuros professores pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) dando ênfase a ambientes informais de aprendizagem. O primeiro, intitulado Comunidades de Prática e aprendizagem docente no ambiente informal do PIBID Ciências, os autores Elaine da Silva Machado, Sergio de Mello Arruda, Marinez Meneghello Passos e Virginia Iara de Andrade Maistro, enfocam a formação inicial de professores de ciência, orientada no modelo de comunidades de Prática. Buscam identificar as capacidades para socialização de experiências e contribuições para a aprendizagem docente, apresentadas pelo blog do PIBID de Ciências de uma universidade do estado do Paraná. Caminham nas reflexões sobre os ambientes informais do PIBID como uma proposta abrangente para a aprendizagem. Destacam, como resultados da investigação, capacidades do ambiente informal do PIBID em promover a aprendizagem docente e apontam limitações interativas relacionadas à ausência de diálogo com a comunidade externa.

 

Compreensões dos bolsistas de Iniciação à Docência/PIBID sobre Clubes de Ciências, ciência e o seu processo de formação inicial é o segundo artigo. Nele os autores Graciele Alice Carvalho Adriano e Edson Schroeder apresentam o resultado de um estudo desenvolvido no PIBID com estudantes do curso de Ciências Biológicas, ofertado na Universidade Regional de Blumenau (SC). Enfatizam a importância de uma educação científica e lançam a proposta do investigar o Clube de Ciências como um espaço não formal para que esta educação aconteça. Segundo os autores, os futuros professores, bolsistas ID, têm entendido o ambiente proposto como espaços não formais de construção de conhecimentos.

 

A Matemática, a Arte, os surdos e a EJA - Educação de Jovens e Adultos - uma intervenção interdisciplinar é o terceiro artigo desta edição. As autoras Rúbia Carla da Silva e Eloiza Aparecida Ávila de Matos apresentam os resultados de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo avaliar a metodologia de ensino de libras, focando a disciplina especifica para esse fim, ofertada em um curso de Licenciatura em Matemática em uma instituição de ensino superior na cidade de Ponta Grossa – PR. Esclarecem as perspectivas deste trabalho, elencando três momentos como fundamentais: levantamento do referencial teórico; desenvolvimento da disciplina de Libras em um curso de Licenciatura em Matemática; e a construção do objeto de aprendizagem para uma turma da EJA  com atividades envolvendo simetria e Op Art. Esse trabalho debate a comunicação entre o ouvinte e o surdo revelando a importância de estudos que abordem metodologias diferenciadas para quebrar o silêncio da comunidade surda de modo a ampliar os horizontes que a limitação do falar e do escutar tem imposto à aprendizagem das pessoas, considerando que a apropriação linguística da Libras não é suficiente para o processo comunicativo em sala de aula.

 

O quarto artigo é assinado por Josiane Bernz Siqueira e Rosinéte Gaertner. Com o título Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade: conceito de proporcionalidade na compreensão de informações contidas em rótulos alimentícios lançam mão de “Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade – IIR” como uma metodologia de ensino para a Alfabetização Científica e Tecnológica proposta por Gérard Fourez. Afirmam que tal metodologia visa à formação de estudantes críticos, autônomos e que saibam negociar perante situações que demandam atuação incisiva na sociedade. Este texto apresenta aspectos de uma pesquisa qualitativa focando o trabalho que desenvolveram com vinte e três estudantes matriculados em uma turma do 8º ano e os modos pelos quais tal metodologia se abre à Alfabetização Científica.

 

Milene Dutra da Silva, Mário Sérgio Teixeira de Freitas e Awdry Feisser Miquelin, no quinto artigo, intitulado Algumas possibilidades de interação entre Arte Urbana, Joseph Wright e o Ensino de Óptica, disparam uma discussão sobre ciência e arte como expressões humanas inseparáveis e, também, como instrumentos de compreensão do mundo. Focam o ensino de física, numa investigação temática cuja concepção norteadora foi a pedagogia dialógico-problematizadora de Paulo Freire. Tratam alguns tópicos da óptica relacionando ciência e arte em uma unidade didática envolvendo conceitos da óptica geométrica no ensino médio, e foi aplicada em três colégios estaduais em Curitiba contemplando a Arte Urbana, presente no universo dos alunos, como tema gerador para o ensino. A experiência vivida na escola permitem aos autores afirmar que a metodologia adotada foi promissora para incrementar o ensino de Física numa abordagem que busque reflexão sobre o papel da Ciência na construção coletiva e histórica do conhecimento, enriquecida pelas suas relações com a Arte.

 

Com o interesse explícito na formação de professores dos anos iniciais, os autores Luiza Renata Felix de Carvalho Lima, Maria Elvira do Rego Barros Bello e Maxwell Roger da P. Siqueira fazem uma revisão do tema, investigando seis periódicos brasileiros, no período de 2004 a 2013. Os resultados deste trabalho estão expostos no sexto artigo A formação de professores das séries iniciais e sua relação com o ensino e aprendizagem: uma revisão em periódicos brasileiros que permite ao leitor visualizar características referentes à Formação de Professores para o Ensino de Ciências nos anos iniciais e o apontamento da carência de investigação neste tema de modo a contribuir com novas perspectivas e reflexões acerca do Ensino de Ciências.

 

No sétimo artigo, Elaboração de aplicativos para Android com uso do App Inventor: uma experiência no Instituto Federal do Paraná – Câmpus Irati, os autores Rodrigo Duda, Sani de Carvalho Rutz da Silva, Diego Dutra Zontini e Luciane Grossi se valem da extensão universitária para desenvolver investigação sobre o pensamento algébrico de alunos ao explorarem as potencialidades do App Inventor, designer de aplicativos gerenciado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Investigam o tema e relatam os resultados parciais do referido projeto de extensão, anunciando as possibilidades de elaboração de aplicativos para execução de cálculos e materiais didáticos que visem a contribuir com a prática docente em matemática. Enfatizam que o roteiro de estudos e demais produtos decorrentes do processo de elaboração de um aplicativo podem ser utilizados como objetos auxiliares para a avaliação em matemática, possibilitando a análise qualitativa do processo de ensino e aprendizagem no que diz respeito à autonomia do discente em buscar diferentes fontes e formas de solucionar ou descrever um problema, bem como estruturar logicamente o pensamento.

 

Ensino por investigação na visão de professores de Ciências em um contexto de formação continuada, oitavo artigo deste número, os autores Joici de Carvalho Leite, Maria Aparecida Rodrigues e Carlos Alberto de Oliveira Magalhães Júnior discutem a formação continuada de professores   pautada nas compreensões que docentes têm de sua prática pedagógica.  Apontam a importância de um processo de formação continuada que leve em consideração as reflexões críticas sobre as práticas docentes, como propulsora para a melhoria da aprendizagem dos estudantes. Nesse sentido, discutem com professores de Ciências e Química a possibilidade do ensino de Ciências por investigação, destacando a importância da mediação do professor, a resolução de problemas e a elaboração de hipóteses pelos alunos.

 

Para dar um novo sentido orientador às aulas, buscando resgatar o interesse dos alunos pelos estudos escolares, Gesinaldo Santos e André Koscianski investigam as possibilidades de inserir atividades de ensino com a introdução de elementos que são próprios de jogos, estratégias conhecidas como Gamification. No nono artigo, Gamification no Ensino de Funções Administrativas, os autores apresentam uma visão geral sobre o assunto e um modelo de gamification disponível na literatura, e aplicados na disciplina de teoria da administração em um curso superior.

 

No décimo artigo, Vitamina C: uma proposta para abordagem de funções orgânicas no ensino médio, os autores Jéssica Guerreiro Martins, Bruno Rafael Machado, Alessandra Machado Baron, Lilian Tatiani Dusman Tonin apresentam o resultado do desenvolvimento de uma proposta educacional,  realizada em um terceiro ano do ensino médio de uma escola pública, em que bolsistas PIBID buscaram a aproximação do ensino de Química com o cotidiano do aluno, tendo por disparador o conhecimento prévio de estudante de um terceiro ano do ensino médio de uma escola pública. Estudantes da Licenciatura em Química, bolsista PIBID, conduziram a proposta que buscou problematizar o estudo de funções orgânicas com o tema “vitamina C”, sustentada nos momentos pedagógicos de Delizoicov, que consiste em três etapas: a problematização inicial, organização do conhecimento e a aplicação do conhecimento. Constataram, com o estudo, que a metodologia diferenciada revelou o progresso no desempenho dos alunos e despertou maior interesse pelos estudos de química.

 

Uso de mapas conceituais na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral 1: uma estratégia em busca da aprendizagem significativa é o décimo primeiro artigo deste número. Nele, os autores Edinéia Zarpelon, Luis Mauricio Martins de Resende e Nilcéia Aparecida Maciel Pinheiro partem da constatação fundamentada em pesquisas de que o ensino de cálculo protagoniza um dos maiores índices de retenção de estudantes no início dos cursos de engenharia. Os autores vão em direção de compreender o fenômeno da reprovação no Cálculo Diferencial e Integral 1, e encontram na literatura a dificuldade dos alunos frente a conteúdos matemáticos básicos como uma das principais causas. Avançam no estudo e apresentam nesse artigo, a teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, os Mapas conceituais como uma alternativa a ser explorada na disciplina a fim de tornar o processo ensino-aprendizagem do Cálculo Diferencial e Integral 1 mais eficaz, de modo a proporcionar uma possibilidade para que ocorra a aprendizagem significativa.

 

João Paulo Ganhor e Irlan von Linsingen assinam o décimo segundo artigo: Sentidos sobre Ciência e Tecnologia no Rap Nacional. Os autores apresentam aspectos de uma pesquisa de mestrado em desenvolvimento explicitando o interesse de contribuir com as investigações sobre as especificidades da Educação Científica e Tecnológica em contextos de periferias urbanas. Sobre isto, discutem a pertinência do Rap nacional na articulação de práticas pedagógicas mais significativas e sensíveis aos diferentes olhares sobre Ciência e Tecnologia (CT) que têm perpassado os espaços escolares. Vão, assim, às produções musicais de grupos mais difundidos nacionalmente que façam referências à ciência e à tecnologia, fundamentando-as na Análise de Discurso da escola francesa preconizada por Michel Pêcheux e nos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, ou Estudos CTS. Buscam compreender como os sentidos emergidos no âmbito do Rap nacional podem contribuir para a explicitação de problemáticas próprias das relações da CT, oferecendo gestos de deslocamentos interpretativos em relação aos sentidos dominantes.

 

O décimo terceiro artigo, Concepções de educação e currículo em educação (a distância): Pressupostos teóricos para a construção de MEDS, de Antonella Carvalho de Oliveira e Antonio Carlos Frasson, apresenta um estudo guiado pela interrogação:  Como as concepções de educação e currículo presentes no processo ensino- aprendizagem contribuem para a construção de MEDS? Neste texto os autores relatam a investigação desenvolvida sobre construção de Materiais Educacionais Digitais (MEDS) para a Educação a Distância (EaD) articulando as concepções de educação e currículo que permeiam o processo ensino-aprendizagem. Apontam a importância da utilização da teoria histórica crítica para a construção de MEDS para a EAD. Indicam também a viabilidade da utilização destas teorias para a ampliação e para a qualidade dos materiais, bem como o desvelamento das concepções que por muitas vezes são contraditórias com a prática e podem representar uma barreira para o alcance dos objetivos da educação, seja ela presencial ou não.

 

Jaqueline Santos Vargas e Shirley Takeco Gobara, no décimo quarto artigo intitulado Elaboração e utilização de Sinais de Libras para os conceitos de Física: Aceleração, Massa e Força, colocam em debate o Ensino de Física para alunos surdos. Investigam o tema pela criação de sinais para conceitos de Física e se lançam na pesquisa para conhecer a aceitação desses sinais ao aplicar uma sequência didática, fundamentada na perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano, focando os conceitos de força, aceleração e massa. Neste texto, apresentam aspectos deste estudo descrevendo o preparo de instrutores para a elaboração dos sinais e a aplicação desses novos sinais na discussão das Leis de Newton com três alunos surdos que frequentavam o Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS)-MS.

 

O artigo A Calculadora Financeira HP-12C como ferramenta para o Ensino de Estatística em um curso de Administração de Juliano Schimiguel e Josney Freitas Silva encerra esse número da RBECT. Nele os autores apresentam um recorte de uma investigação realizada no Curso de Administração em uma Universidade Públicano estado de Minas Gerais, no âmbito da Educação Estatística. Os autores investigam o uso da Calculadora Financeira HP-12Cno ensino superior, utilizando aspectos metodológicos da pesquisa-ação. Trazem para o debate o uso da tecnologia como estratégia para mobilizar os conhecimentos dos estudantes. Com isso, lançam luz à interpretação dos exercícios, bem como dos resultados obtidos na resolução dos que, em conjunto com a aprendizagem do uso da calculadora, se mostram fundamentais à Educação Estatística.

 

Luciane Ferreira Mocrosky

Abril de 2015

 

PS: Não deixe também de conferir o v 8, n 1 da Revista Brasileira de Ensino em Ciência e Tecnologia

Sumário

Artigos

Elaine da Silva Machado, Sergio de Mello Arruda, Marinez Meneghello Passos, Virginia Iara de Andrade Maistro
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Graciele Alice Carvalho Adriano, Edson Schroeder
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Rúbia Carla da Silva, Eloiza Aparecida Ávila de Matos
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Josiane Bernz Siqueira, Rosinéte Gaertner
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Milene Dutra da Silva, Mário Sérgio Teixeira de Freitas, Awdry Feisser Miquelin
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Luiza Renata Felix de Carvalho Lima, Maria Elvira do Rego Barros Bello, Maxwell Roger da Purificação Siqueira
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Rodrigo Duda, Sani de Carvalho Rutz da Silva, Diego Dutra Zontini, Luciane Grossi
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Joici de Carvalho Leite, Maria Aparecida Rodrigues, Carlos Alberto de Oliveira Magalhães Júnior
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Gesinaldo Santos, André Koscianski
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Jéssica Guerreiro Martins, Bruno Rafael Machado, Alessandra Machado Baron, Lilian Tatiani Dusman Tonin
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Edinéia Zarpelon, Luis Mauricio Martins de Resende, Nilcéia Aparecida Maciel Pinheiro
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João Paulo Ganhor, Irlan von Linsingen
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Antonella Carvalho de Oliveira, Antonio Carlos Frasson
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Jaqueline Santos Vargas, Shirley Takeco Gobara
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Juliano Schimiguel, Josney Freitas Silva
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