O pensamento ecológico na poética de Virginia Woolf e Machado de Assis

Resumo

O presente trabalho intenta tecer uma conexão entre os estudos da ecocrítica e das animalidades e as produções literárias de dois autores altamente reconhecidos no cânone ocidental: Virginia Woolf e Machado de Assis. Apesar de engendradas no século XIX e início do século XX, as obras desses dois autores já antecipavam discussões indispensáveis aos estudos voltados à relação entre os mundos humano e não humano, tão pertinentes no século XXI. Por intermédio do diálogo interdisciplinar, envolvendo áreas como biologia, etologia, filosofia, sociologia e, aqui, literatura, esses estudos buscam uma descontinuidade da suposta superioridade humana frente às outras formas de vida que coexistem com o homem, bem como traçam caminhos possíveis para reverter os danos causados por séculos de desrespeito à natureza. Para a leitura de Woolf, Diana Swanson (2011) e Rebecca Schisler (2012) são os principais nomes evocados para o diálogo entre ecocrítica, ecofeminismo e o olhar da autora diante do mundo mais-que-humano, com sua atenção singular para formas de vida diminutas como caracóis e mariposas ou o jardim vivo protagonista do conto “Kew gardens”. Em Machado de Assis, Nelson Aprobato Filho (2016), Peter Singer (2010) e Maria Esther Maciel (2023) contribuem com a leitura de crônicas e contos machadianos que apresentam questões como o vegetarianismo e a crueldade das touradas, aqui iluminados pelos Estudos Críticos Animais. Assim, este texto busca contribuir com as crescentes leituras de autores consagrados, revistos pelo viés ecológico-ambiental.