O homem que olha: o narrador nolliano em Rastros de verão

Laysa Louise Silva Beretta, Gustavo Ramos de Souza

Resumo


A presente análise volta-se para a interseção entre literatura e cinema na obra de João Gilberto Noll, considerando especificamente a novela Rastros do verão, publicada em 1986. A afinidade entre Noll e cinema é reconhecida tanto pela crítica especializada quanto pelo próprio autor, que se descreve como um cinéfilo e revela identificação com cineastas como Michelangelo Antonioni, cuja obra explora a incomunicabilidade. A influência do cinema em Noll se manifesta não apenas em adaptações – o conto “Alguma coisa urgentemente”, que integra o volume O cego e a dançarina (1980), foi levado às telas como Nunca fomos tão felizes, em 1984, por Murilo Salles; Harmada foi adaptado por Maurice Capovilla, em 2003; e Hotel Atlântico por Suzana Amaral, em 2009 –  ou em suas referências explícitas, mas também na forma como seu estilo narrativo reflete a estética cinematográfica.

Assim, pretendemos estabelecer uma correspondência entre o estilo de narração em Rastros do verão e o regime de visibilidade do cinema moderno, caracterizado por uma nova relação com o tempo e a ação, onde a observação e a imagem se tornam centrais. A narrativa nolliana se aproxima desse regime de visibilidade na medida em que o narrador se assemelha a uma figura de observador em vez de um agente ativo. Essa perspectiva está alinhada com a análise de Michèle Garneau, que sugere que o cinema moderno introduz uma "impotência motriz" nas personagens, que compensam essa limitação pela intensidade do olhar. É preciso ressaltar que não se trata de uma mera imitação das técnicas cinematográficas, mas da exploração de uma dimensão mais profunda da observação e da representação.

Com isso, o artigo, cuja análise teórica baseia-se em conceitos de Idelber Avelar, Gilles Deleuze, Ítalo Moriconi e Silviano Santiago, intenciona contribuir para o entendimento das interseções entre a literatura de João Gilberto Noll e o cinema moderno, revelando como a estética e a narrativa nolliana refletem uma transição importante na representação visual e temporal que caracteriza o cinema moderno.


Palavras-chave


João Gilberto Noll; cinema moderno; literatura; intermidialidades.

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DOI: 10.3895/rl.v27n50.18907

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