O mundo – e o texto – de pernas para o ar: A paródia em Um jogador, de Dostoiévski

João Marcos Cilli de Araújo

Resumo


A composição paródica está presente em toda a obra de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Com Um jogador, publicado em 1867, não é diferente. Frente àqueles que se consideram seus superiores, o jovem narrador do romance se vale da zombaria e do gracejo para parodiar discursos vigentes na Europa Ocidental e nos ciclos ocidentalistas russos, mostrando como os ideais de igualdade e liberdade, tão enaltecidos na cultura europeia da modernidade, seriam completamente falsos. Num mundo marcado por hierarquias, no qual ele é encarado apenas como cidadão de segunda classe, o narrador usa do procedimento paródico para promover uma espécie de carnavalização do mundo. Assim, na esteira do pensamento de Roberto Schwarz, é possível afirmar que, embora tivesse pretensão à universalidade, a psicologia do egoísmo racional, assim como a moral formalista, fazia, no Império Russo, efeito de uma ideologia “estrangeira”, vinda de fora – e, assim, localizada e relativa. Em meio a uma situação de atraso histórico, o Império Russo impunha ao romance burguês um quadro mais complexo.


Palavras-chave


Dostoiévski; paródia; carnavalização; Um jogador; ocidentalismo

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DOI: 10.3895/rl.v23n42.11646

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