v. 4, n. 2 (2011)

DOI: 10.3895/S1982-873X20110002

A Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia em seu vol.4, número 2 configura-se em um vigoroso conjunto de produção acadêmica. As discussões de ideias, metodologias, resultados de investigação enveredam-se em múltiplas abordagens e abrem sendas com o propósito de instigar a reflexão e compreensão dos caminhos da ciência e da tecnologia e as questões candentes no Ensino de Ciência e Tecnologia em nosso país. Neste número, a história e epistemologia da ciência põem foco sobre as concepções e mudanças que aí se engendram. Nesse contexto os pesquisadores propõem interpretar as novas configurações desenhadas na contemporaneidade, sobretudo tendo em base contradições implícitas.

Assim os conceitos de educação tecnológica, redes colaborativas de ensino de ciência, geração e cultura científica constituem-se grelha de leitura para vislumbrar as contribuições daqueles que refletem a educação nas suas várias acepções e dimensões.

Esta coletânea contém pautas e sugestões de projetos inovadores no âmbitodo ensino de ciência e tecnologia, entendendo que o processo educativo envolve sujeitos e deve ser promotora de visão crítica e emancipadora. Sob esse prisma as problematizações de pesquisas elegem o saber como substantivo e ação em dialogicidadena construção e (des)construção de saberes intra e interdisciplinares.

A linearidade da aplicação de metodologias estabelecidas e o papel do professor inovador abarcam a primeira discussão da presente revista. Conduzida por UBERTI e CURY é enfocada no sentido de desmisticar metodologias como a do emprego de jogos em:“Uso de jogos e análise de erros em resoluções de equações: uma experiência com alunos de 6ª série do Ensino Fundamental”. As autoras apontam que o uso de jogos surgiu com o objetivo de buscar formas de despertar o interesse de uma turma de alunos pela Matemática e consideram que a aplicação dos jogos possibilitou aos estudantes a aprendizagem de equações, inequações e sistemas de equações, a superação de dificuldades anteriormente apresentadas e o desenvolvimento de habilidades e valores individuais e coletivos.

Em: “Mídia e Educação - Resgate da Produção Acadêmica em Cursos de Pós-Graduação Brasileiros (2005-2009)”, TEIXEIRA e LEYSER da ROSA debruçam sobre fontes de papéis para identificar as principais tendências das investigações nesse campo e sinalizam possibilidades para futuros estudos. Ao reconstruir a historiografia das relações entre mídia e educação a partir das produções acadêmicas (na forma de teses e dissertações) realizadas no período de 2005 e 2009, os pesquisadores adentram a seara da história e os  modos de fazê-la. Vem a baila a concentração de medidas para evidenciar indicadores de qualidade das produções nessa temática.

No terceiro estudo, o autor TRÉZ questiona a postura histórica e culturalmente instituída pela ciência em relação aos métodos de experimentação. Apresenta ineditismo ao construíra base teórica fundamentada nos posicionamentos de Paulo Freire. Sob o título de “Experimentando a desumanização: Paulo Freire e o uso didático de animas”, articula concepções de ética às situações consideradas como de alto potencial de conflito moral. Assim sendo, é posta a problematização do experimento (instrumento) e experiência (vivência) didática consolidada e caracterizada como um recurso e circunstância promotora da desumanização e da alienação, reforçando posturas hegemônicas em benefício da manutenção de concepções altamente questionáveis da práxis e da educação científica.

Para compor a “Visão de mundo em livros didáticos de biologia: um estudo sobre o conceito ecossistema”, COUTINHO, MARTINS, WINTER e COSTA analisam livros didáticos sob a ótica de concepções filosóficas que norteiam e determinam conceitos aplicados no ensino de Biologia. Destacam a premente necessidade da recondução das visões de mundo, propagadas por meio das escolas e dos livros didáticos, as quais são dissonantes com as visões de mundo da biologia científica contemporânea. Esse novo olhar para pesquisas em ensino de biologia pode colaborar na construção de estratégias alternativas de ensino e configurações curriculares.

O quinto artigo intitulado “Filatelia como mecanismo de divulgação e de ensino para as Engenharias no Brasil” de autoria de PENEREIRO e FERREIRA permite-nos vislumbrar a imbricação da arte, ciência e tecnologia. Esquadrinham a história das Engenharias no Brasil buscada em vestígios da cultura material e simbólica em uma fonte altamente estética e delicada e que exige do pesquisador aspirante a historiador a habilidade de ler, relacionar e reler o texto e o contexto, identificar mudanças e permanências. O objetivo emerge por meio da filatelia, em um estudo descrito como aprofundado, íntimo, sedutor, instigante, esclarecedor e científico. Uma bela surpresa científica!

A sexta contribuição desta edição, “Experimentação mediante vídeos: concepções de licenciandos sobre possibilidades e limitações para a aplicação em aulas de química” provoca-nos a pensar sobre a interrelação entre os pressupostos teóricos que envolvem tecnologias de informação e comunicação, aprendizagem significativa e formação docente. O artigo percorre a visão sobre as formas de experimentação na área de química. FRANCISCO JUNIOR e SANTOS propõem a experimentação e o uso de recursos audiovisuais como importantes ferramentas no processo educacional e cultural e esboçam a possibilidade de se tornar em um recurso alternativo para que professores realizem aulas experimentais. Esta proposta, verificada em cursos de formação para docência, foi refutada em grande parte pelos licenciandos. O que para os autores indica que a concepção de ciência apresentada pela maioria dos acadêmicos parecem pautadas na concepção empirista/indutivista. E, essa visão de ciência linear apresentada pelos acadêmicos pode decorrer da formação histórica à qual estão submetidos no que se refere à compreensão do que e como se faz na ciência.

E agora: “Ivo viu a uva.” Ou Ivo viu a uva? (...)

Afinal em meio às tecnologias de informação e comunicação e inúmeras possibilidades, pode-se realinhar a história, quantas vezes forem necessárias!

Então: Ivo viu a uva, que uva... é uva mesmo? Por que é uva? Não pode ser a avu? De onde veio? Quero ver! Quem é Ivo, mesmo? Quantos Ivos, ainda, permanecem na primeira história? Existem outras possibilidades de histórias para Ivo? Tem outros nomes...hum! E (...)?

Destarte, a edição que entregamos aos leitores: docentes, discentes e pesquisadores, é um convite à reflexão, ao debate e à construção de uma educação comprometida com iniciativas que consolidam a disseminação do conhecimento.

Boa leitura!

Ponta Grossa, agosto de 2011

Eloisa de Ávila Matos

Sumário

Artigos

Angelita Uberti, Helena Noronha Cury
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Fernando Teixeira, Vivian Leyser da Rosa
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Thales de Astrogildo e Tréz
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Francisco Ângelo Coutinho, Rogério Parentoni Martins, Raquel Reis Winter, Fernanda de Jesus Costa
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Júlio César Penereiro, Denise Lombardo Ferreira
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Wilmo Ernesto Francisco Junior, Railane Inácio dos Santos
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