Significados e sentidos de justiça ambiental nas teses e dissertações brasileiras em educação ambiental
Thaís Angeli, Luiz Marcelo de Carvalho
Resumo
Neste artigo, procuramos sistematizar parte dos resultados da dissertação de mestrado da primeira autora, que teve como objetivo geral explorar possíveis significados e sentidos sobre o papel do processo educativo na construção da justiça ambiental, passíveis de serem construídos a partir de teses e dissertações de educação ambiental (EA) que problematizam o conceito de justiça ambiental. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, orientada pelo referencial teórico-metodológico da abordagem histórico-cultural. Consiste, também, em uma pesquisa documental, do tipo estado da arte, que está inserida no âmbito do Projeto Educação Ambiental no Brasil: análise da produção acadêmica - teses e dissertações (Projeto EArte). Neste artigo, a partir da análise de um corpus documental que se constituiu de 23 pesquisas em EA, nas quais o conceito em questão é problematizado, foi possível sistematizar alguns indicadores acerca das possibilidades do processo educativo na construção de justiça ambiental, bem como limitações associadas a esse processo. No que diz respeito às possibilidades, as pesquisas analisadas trazem a contribuição da EA no empoderamento social e político das comunidades no enfrentamento de seus problemas socioambientais, criando espaços de participação democrática e de construção da cidadania, incentivando a organização coletiva, promovendo o acesso à informação e trabalhando com a noção de pertencimento dos indivíduos em relação ao seu ambiente. Além disso, aponta-se para o potencial da EA em desenvolver práticas na direção da construção de sociedades sustentáveis, promovendo a compreensão de injustiças ambientais e problematizando as contradições e conflitos socioambientais provenientes do nosso sistema econômico, de modo a mobilizar a população para uma perspectiva crítica acerca da temática ambiental. Em relação às limitações, as pesquisas apontam que o processo educativo, sozinho, não é capaz de alterar os atuais padrões de desigualdade e injustiça, seja em razão de estruturas curriculares rígidas, distanciadas de questões sociais e apartadas de compromisso social, ou devido a conflitos entre uma formação para justiça ambiental e o discurso hegemônico empresarial. Dessa maneira, a EA não encontraria, na configuração de estados neoliberais, espaço para uma ação contra-hegemônica. Assim, a falta de continuidade no financiamento, assistência e suporte acabam prejudicando o acompanhamento, o fortalecimento e a consolidação de práticas emancipatórias, além de favorecer que o processo educativo funcione como um mecanismo que, direta ou indiretamente, reforça injustiças ambientais. Dessa forma, os dados sistematizados evidenciam tentativas de aproximação, por parte de pesquisadores(as) em EA, entre os campos da EA e da justiça ambiental, procurando evidenciar e compreender as possibilidades de construção de práticas educativas contra-hegemônicas, mas, também, reconhecendo os limites que essa prática educativa, vista como prática social e condicionada a determinantes estruturais e conjunturais, nos impõem.
Palavras-chave
Educação ambiental; Justiça ambiental; Justiça socioambiental
DOI:
10.3895/actio.v5n2.12265
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