Dossiê temático sobre "Os impressos em pauta: produção, circulação, consumo e recepção de livros didáticos" abre chamada até 31/12/2024. O presente dossiê pretende reunir pesquisadores que desenvolvam trabalhos sobre livros didáticos no Brasil, com enfoque na produção, circulação, recepção, consumo e nos mecanismos de censura e controle sobre os impressos. Para tanto, será necessário compreender, seguindo as premissas da História do Livro, da Leitura e da Edição – e ancorados nos estudos de Marisa Midori Deaecto, Marcia Abreu, Leila Mezan Algranti, Anibal Bragança, Circe Bittencourt, Allain Choppin, Martyn Lyons e Lucien Febvre – a formação, as tendências filosóficas, literárias e histórico-sociais que possibilitaram tanto a constituição material do livro quanto a formação de um universo de leitura. Essas questões serão colocadas em associação à História do Tempo Presente, especialmente por se acreditar que os debates atuais no interior da História Social da Educação que se debruçam sobre temas como currículo, métodos de ensino, ou mesmo sobre assuntos como a reforma do Ensino Médio, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a educação popular e a legislação que trata da diversidade étnico, racial, religiosa e cultural, possuem profunda relação e reverberam destacadamente sob a constituição dos impressos, dado que ao se observar o próprio regime de historicidade passado-presente, a dimensão letrada e educacional ainda continua fortemente sob as influências de uma história eurocentrada e de interesses empresariais neoliberais. Não seria temerário afirmar que nos últimos anos, a História do Livro tem sido um campo vividamente fecundo da pesquisa histórica brasileira, sendo inegável a importância dos impressos, sobretudo os livros, no desenvolvimento das sociedades e do conhecimento científico. Os debates empreendidos pela historiografia que fez do livro um tema de estudo, compreendem-no como objeto construtor da história e concebe o estudo de suas formas de produção, circulação, consumo e recepção nos mais diversos contextos históricos, como instrumento de grande relevância para a compreensão não só dos mecanismos industriais e comerciais por trás de sua existência, como também de seu importante papel como suporte de leitura, proliferação de saberes, construtor de identidades e heranças culturais. Essas dimensões (da produção à recepção), obedecem, igualmente, a uma dinâmica conflitual que envolve disputas e relações de poder, dado que o livro constitui também produto de temporalidades com demandas e interesses específicos de sua época. Ao longo da história do livro no Brasil, desde a instalação da Imprensa Régia, no século XIX, o Rio de Janeiro assume papel preponderante no mercado de livros, obedecendo a um mercado editorial transnacional, incluindo pelo menos Europa e América. O crescimento da produção e circulação de livros, nacionais e estrangeiros, deveu-se, não apenas à própria expansão da instrução primária, mas também da instalação de gabinetes de leitura, de bibliotecas, de Escolas Normais, do desenvolvimento urbano e de várias instituições sob a direção da Igreja ou de membros da elite intelectual, destinadas à difusão da leitura. Desde o início de sua fabricação em terras brasileiras, a produção, escolha e circulação do livro estiveram a serviço do “projeto civilizador” das elites dirigentes e intelectuais. Foi por meio dos livros, sejam eles didáticos, religiosos, científicos ou literários, que se buscou difundir as letras como via de fazer ser aceito um determinado projeto de sociedade, ocupando esses suportes de escrita, lugar de indiscutível destaque na construção de narrativas destinadas à própria construção da história do Brasil, da difusão de um sentimento nacional brasileiro. Paralelo ao crescimento do comércio livreiro, no decorrer dos séculos XIX e XX, os órgãos competentes responsáveis pelo ensino oficial e a Igreja Católica, direcionaram constante atenção à circulação, consumo e usos dos livros, elaborando leis e diretrizes que estabeleciam o que deveria ser lido e ensinado e a quem era permitido ler. Organizadores: - José Edilmar de Sousa (UFMA) - Cleidiane da Silva Morais (UECE) |