Educação monológica e pandemia: o retorno dos que não foram

Resumo

A pesquisa educacional sobre o diálogo da sala de aula ao longo das últimas quatro décadas documentou a prevalência da fala e do controle do professor. No entanto, há evidências crescentes de que, por meio do diálogo, os alunos podem aprender mais sobre o tema em estudo, reter os ganhos de aprendizagem por mais tempo e desenvolver habilidades de raciocínio. Esses achados se transformaram em estratégias de promoção de diálogos educativos, tornando-os mais ricos e significativos. Como essa abordagem não é amplamente adotada nas escolas públicas brasileiras, planejamos uma intervenção escolar com foco no desenvolvimento de práticas dialógicas dos professores, promovida por um programa de formação de professores. Em março de 2020, quando a primeira oficina estava pronta para ser realizada, a pandemia chegou ao Brasil e exigiu o fechamento de todas as escolas. Neste artigo, refletimos sobre o que aconteceu com o diálogo em sala de aula durante a pandemia. Em primeiro lugar, apresentamos uma breve revisão das condições altamente desiguais de acesso à internet e aos computadores, meios básicos da nova plataforma educacional. Em segundo lugar, a partir de entrevistas com dois professores, analisamos por meio da Teoria da Atividade, a prática escolar em tempos de pandemia, como os professores têm enfrentado a situação e elaborado soluções para interagir com os alunos. Finalmente, propomos uma ampliação da noção de monólogo e diálogo para incluir mais do que interações verbais. Argumentamos que apesar de todos os esforços do professor para promover mais interações e diálogo, as condições concretas das pandemias impuseram prontamente um modelo monológico de educação.