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ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, set./dez. 2018.
http://periodicos.utfpr.edu.br/actio
Representações midiáticas de corpo, gênero
e sexualidade uma análise da série Orange
Is The New Black
RESUMO
Tainá Cordova Schlösser
tainaschlosser@gmail.com
orcid.org/0000-0001-6010-1039
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba, Paraná, Brasil
Patricia Barbosa Pereira
patriciapereira@ufpr.br
orcid.org/0000-0002-2984-2872
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba, Paraná, Brasil
As mídias atravessam, definem e perfazem nossas interações cotidianas. Na escola isto não
tem sido diferente. No entanto, por falta de apropriação teórico-prática e pouca visibilidade
didática, alguns artefatos midiáticos, quando associados ao aspecto pedagógico, podem ser
generalizados negativamente como vilões e causadores da indisciplina. Partindo dessas
ideias, bem como de nossas vivências no âmbito escolar, juntamente com a assunção de
alguns assuntos polêmicos/tabus em discursos que circulam na atualidade, o presente
artigo trará a análise de trechos da série estadunidense “Orange Is The New Black”,
acessada com frequência por jovens e adolescentes em idade escolar. Para tal, faremos uso
da Análise de Discurso francesa (AD), com a intenção de discutir como os temas sexualidade,
corpo e gênero são representados na rie, além de analisarmos como essas representações
podem influenciar na construção de sentidos acerca de tais temas. Buscaremos verificar,
também, se existe a possibilidade de se aprender com as mídias no escopo do Ensino de
Ciências, em uma abordagem mais contextualizada quanto à educação sexual. A série
apresenta conteúdos sociais, os quais podem ser discutidos em sala de aula para o estudo
de temas transversais, principalmente em relação à educação sexual e no que diz respeito
aos temas sexualidade, corpo e gênero, em uma alternativa à abordagem biológica-
higienista, a partir de outros aspectos como os direitos humanos e sexuais.
PALAVRAS-CHAVE: Mídias. Sexualidade, Corpo e Gênero. Educação Sexual. Análise de
Discurso.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
INTRODUÇÃO
O avanço das tecnologias se reflete no comportamento de toda a sociedade.
Um dos desdobramentos dessa mudança está no crescente número de crianças e
adolescentes, a chamada “Geração Net” ou “Geração Y”, que ao invés de saírem
para brincar, praticar esportes ou até mesmo socializar com outras pessoas de
mesma idade, preferem fazê-los por intermédio de tecnologias. Reeves (2008)
caracteriza a “Geração Net”, que o possui faixa etária definida, por sempre estar
conectada a computadores, celulares e tablets - jogando online, vendo séries,
desenhos, filmes e se relacionando virtualmente, tanto com pessoas conhecidas,
quanto desconhecidas. Estudos trazem as consequências de se ficar online 24
horas por dia. Dentre elas estão: a diminuição do contato social físico, pois este é
substituído pelas redes sociais; o grande aumento de doenças psicológicas através
do cyberbullying; além de doenças físicas, que também estão na lista, como
problemas de coluna, de visão e o sobrepeso (GAMBARDELLA; BISMARCK-NASI,
2000). Assim, percebe-se uma preocupação de se tratar tais problemas e entender
como eles poderão afetar essa geração quando adulta.
Outro avanço se relaciona aos conteúdos presentes nas mídias, que são
consequentes dessa expansão e aprimoramento tecnológico e aqui cabem todas
elas, desde as sociais até as televisivas. Nesses espaços, assuntos ditos tabus o
transmitidos e discutidos. Porém, em tal contexto, alguns pontos importantes a
serem levantados são: que tipo de conteúdo tais mídias abordam? E, em relação à
veracidade de tais conteúdos, qual é a atenção dada pelos produtores de novelas
e filmes, por exemplo, ao destinarem o foco a tais assuntos? Como, afinal, esses
conteúdos podem influenciar a vida de jovens e adolescentes? Como eles podem
interpretar o que é veiculado, diariamente, pelas mídias?
O presente artigo visa discutir, por meio da Análise de Discurso da linha
francesa (AD), como os conteúdos midiáticos representam os temas: sexualidade,
corpo e gênero, e como sua abordagem interfere/influencia na construção de
sentidos que apontem para esses temas. Tais temáticas são tratadas de diversas
formas, por diversos meios de comunicação, como revistas, jornais, novelas, filmes
e séries. Embora não adolescentes e jovens sejam influenciados por esses
discursos, se ater às formas como esse público está aprendendo parece ser um
ponto importante, no sentido de assegurar a qualidade de formação, diante de
tantas fragilidades, intolerâncias e retrocessos que se disseminam em nossa
sociedade. Em consonância com Ramos (2006), percebemos, também, a
importância de tratar os dois assuntos de forma conjunta, atrelados à educação,
pois as mídias também propiciam formas de aprendizado significativo.
Perceber a crescente procura por séries, principalmente por jovens e
adolescentes, traz a necessidade de um olhar mais atento para as possibilidades
de apropriação cultural promovidas pelas mídias. Tal necessidade está vinculada a
constituição de identidades culturais locais daqueles que estão em formação e,
além do que, estarão exercendo sua liberdade de expressão, difundindo, através
de redes sociais, em ambientes formais ou informais, os conceitos e ideias
“absorvidos”. Por isso, em consonância com Bévort e Belloni (2009) destacamos a
importância de uma atenção para as mídias, bem como sua apropriação crítica e
criativa, a partir da noção de mídia-educação que:
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é parte essencial dos processos de socialização das novas gerações, mas não
apenas, pois deve incluir também populações adultas, numa concepção de
educação ao longo da vida. Trata-se de um elemento essencial dos processos
de produção, reprodução e transmissão da cultura, pois as mídias fazem parte
da cultura contemporânea e nela desempenham papéis cada vez mais
importantes, sua apropriação crítica e criativa, sendo, pois, imprescindível
para o exercício da cidadania. (BÉVORT; BELLONI, 2009, p. 1083).
Nas disciplinas presentes na Educação Básica em contexto brasileiro, não
existe uma responsável por tratar de sexualidade, corpo e gênero, mas, segundo
as bases curriculares, tanto nacional quanto estadual, especificada a
importância de tratá-los, transversalmente, em todas as áreas do conhecimento.
No entanto, quando lançamos um olhar mais minucioso para as propostas
curriculares e até mesmo para os conteúdos dos livros didáticos, que
inegavelmente ainda são ferramentas que perpassam e auxiliam a prática docente,
as abordagens desses temas se limitam às áreas de Ciências e Biologia. Nesse
sentido, outra questão a ser levantada: como são, corriqueiramente, feitas
essas abordagens? Furlani (2008) incentiva a repensar essas abordagens que têm
se realizado de maneira normatizadora, determinista, excludente e biologizante.
Nos cursos de licenciatura, a ausência de uma discussão mais ampla também tem
se repetido e a tendência, em especial no curso de Biologia, que é de onde falamos,
é de uma abordagem anatômico-fisiológica, sem enfoque para relações
socioculturais, que são a base para o entendimento amplo das questões de
sexualidade, corpo e gênero.
Alguns meios nos quais os temas serão tratados em sala de aula, em busca
de abordagens que contemplem a relação desses temas na realidade dos alunos,
são também apresentados nas bases curriculares, bem como na metodologia CTS
(Ciência, Tecnologia e Sociedade). Nesse sentido, acreditamos que essas sejam
formas positivas de motivar e chamar a atenção do aluno durante as aulas
ministradas, o que proporciona uma melhor qualidade de seu aprendizado, em
especial a metodologia CTS, por se tratar de uma abordagem que parte de
assuntos presentes em seu cotidiano. Talvez pensar nos artefatos midiáticos,
especialmente as séries, como voltados apenas para o lazer, ou algo que não pode
trazer qualquer tipo de aprendizado significativo, não seja mais a questão, o que
se deve fazer agora é buscar nessas séries formas e espaços de incentivar e
enriquecer as discussões em sala de aula.
Tudo a nossa volta tem significado e, por consequência, traz um
aprendizado. Para entendermos o mundo a nossa volta, necessitamos
compreender os diversos significados das diversidades que nos cercam. Nesse
caminho, torna-se necessária uma busca de aprendizados para além dos muros da
escola. Em outras palavras, é necessário entender que muitos conhecimentos
envolvidos em tudo que faz parte do nosso cotidiano, e que eles estão
entrelaçados com o que se é aprendido/trabalhado dentro do ambiente escolar.
Desde o Ensino Fundamental, os conhecimentos gerais nos são ensinados
em forma de “matérias escolares”, historicamente construídas e legitimadas
(FERREIRA; SELLES, 2003), as quais são tratadas por blocos e dificilmente são
integradas. Essa falta de integração, relacionada a um modus operandi de
organização de conhecimento, não reflete a vida em suas facetas. Quando o
assunto são as mídias e seus produtos, então, é mais que clara a falta de reflexo
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do mundo integrado na compartimentalização e disciplinarização dos
conhecimentos escolares.
É um processo evidente que, aos poucos, as tecnologias, e falamos aqui
especificamente das mídias, vão ganhando o espaço escolar. Porém, infelizmente,
elas não são exploradas de formas mais amplas, pois ainda parecem presentes as
dificuldades que professores enfrentam na realização de apropriações e propostas
didáticas que fujam de práticas tradicionais de ensino. Assim, nesse trabalho
propomos aprofundar a discussão das mídias que se inserem no cotidiano dos
jovens e adolescentes, cujos produtos trazem diversos conceitos sobre assuntos,
muitas vezes, não explorados das formas nas quais deveriam. É fato que o que é
veiculado nas mídias tem uma pedagogia própria, pois gera aprendizados
significativos sobre assuntos diversos, inclusive sobre os corpos, comportamentos
e condutas. Por que, então, não utilizar pedagogicamente aquilo que é tão atrativo
aos alunos? É, de certa forma, um retrocesso não conectar Educação em Ciências
e as mídias, visto que elas estão presentes de modo tão significativo em nossas
vidas.
Da mesma forma que os artefatos e conteúdos midiáticos podem ensinar,
também podem confundir. Nesse sentido, se encontra a importância de os
processos de ensino-aprendizagem articularem conteúdos a serem trabalhados
em sala de aula, ao que é divulgado na televisão e/ou na internet. Contextualização
e discussão constantes são fundamentais. Por serem temas contemporâneos -
sexualidade, corpo e gênero, suas abordagens se dão das mais diversas formas nos
diversos meios supracitados, muito acessados pelos jovens e adolescentes em
formação. Isso agrega maior relevância para que esses sejam estudados e
analisados, a fim de se tornarem ferramentas de ensino-aprendizagem na
formação de jovens e adolescentes. Os próprios professores de Biologia e Ciências
também ganham, pois poderão explorar os conteúdos conceituais para além de
seus enfoques essencialmente biológicos, anatômicos e fisiológicos, abordando-os
amplamente a partir de seus aspectos sociais.
CAMINHOS METODOLÓGICOS
Neste artigo nosso objetivo geral é trazer uma análise de como artefatos
midiáticos populares entre jovens e adolescentes influenciam na construção de
sentidos sobre sexualidade, corpo e gênero por esse público, a fim de
compreendermos alguns possíveis discursos sobre tais temas. Vale ressaltar aqui
que o presente artigo se trata de um pequeno recorte de uma outra pesquisa, mais
ampla. Assim, nossas análises foram realizadas a partir da delimitação de um
corpus. De acordo com Charaudeau e Maingueneau (2008):
nas ciências humanas e sociais mais particularmente, corpus designa o
conjunto de dados que servem de base para a descrição e análise de um
fenômeno. Nesse sentido, a questão da constituição do corpus é
determinante para a pesquisa, pois trata-se de, a partir de um conjunto
fechado e parcial, analisar um fenômeno mais vasto que essa amostra.
(CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2008, p. 137)
Para tanto, primeiramente, se fez necessária a escolha de um artefato
midiático para pré-análise de delimitação desse corpus. Assim, optamos pelas
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séries, frequentemente acessadas pelo público alvo. A crescente popularidade do
site Netflix, um canal pelo qual diversas séries, desenhos e filmes são
disponibilizados, por um preço bem acessível por mês, torna a popularidade desse
tipo de artefato ainda maior. A série escolhida foi uma estadunidense, a qual está
em alta, com indicações ao Emmy - um outro tipo de premiação, semelhante ao
oscar, mas que premeia as demais mídias televisivas - e se trata de uma série
original Netflix. Dessa forma, a pesquisa foi feita no próprio site original da série.
A série em questão se intitula Orange Is The New Black”, hoje com cinco
temporadas e eleita, por muitos sites e blogs, como uma das melhores dez séries
dos últimos tempos, o que confirma seu título de popularidade (além de pesquisas
sobre audiência, como uma publicada em uma matéria no site Uol, neste ano, que
mostra a série em sexto lugar
1
). Além de ser bem conhecida, sua classificação
etária é para maiores de 16 anos, logo, ela se enquadra no público alvo desta
pesquisa. Outro ponto, muito crucial, é o fato de que a série aborda muitos temas
considerados como polêmicos/tabus, que estão intimamente relacionados aos
temas do presente artigo (sexualidade, corpo e gênero).
A série possui muito conteúdo em suas cinco temporadas, porém, o recorte
e delimitação do corpus para esse artigo envolve somente a primeira temporada,
por ser suficiente e conter todos os temas a serem trabalhados a partir da AD,
em busca das possibilidades de construções de sentidos a partir de seu discurso.
Todos os trechos cujos sentidos, em nossa leitura, se filiam a sexualidade, corpo
ou gênero foram transcritos, fidedignamente, para posterior análise. Ao total,
noventa e sete trechos foram transcritos, dos treze episódios que compõem a
primeira temporada.
Para fins de análise, tais trechos foram agrupados nos temas sexualidade,
corpo e gênero, com o intuito de condensar o trabalho e também buscar
semelhanças ou diferenças nos discursos apresentados em diferentes momentos,
por diferentes personagens. Portanto, os trechos foram cruzados para essas
análises. Por se tratar apenas de um recorte de um trabalho maior, que traz a
análise de outros trechos do total identificado, o presente artigo contará com um
trecho somente, dentre todos que foram classificados, com sentidos que se filiam
à sexualidade, corpo e gênero. Ou seja, serão analisados três trechos, dentro da
totalidade (noventa e sete), um sobre corpo, outro sobre gênero e, por fim, um
sobre sexualidade.
Como possibilidade teórico-analítica para estudar os processos de
construção de sentidos acerca dos temas sexualidade, corpo e gênero, como
citado ao decorrer do texto, a AD será o principal referencial desta pesquisa. Assim,
a AD parte da ideia de que os sentidos são produzidos durante um discurso, o qual
não existe sem um locutor, que por sua vez é um sujeito histórico (ORLANDI, 2003).
Logo, a AD será usada para a análise, por se tratar de uma análise de sentidos
construídos e constituídos em um discurso, o qual está inserido em um contexto
sócio-histórico repleto de ideologias, que também devem ser levados em
consideração. Tais pontos devem ser levados em consideração, principalmente ao
se analisar uma mídia, visto que o próprio termo é bastante polissêmico, ou seja,
possibilita diversas construções de sentidos e significados. A esse respeito, o
simples fato de mais de uma pessoa construir uma notícia, no caso de um
telejornal, por exemplo, já carrega/agrega vários sentidos, desde a fonte, de quem
apresentou o fato, passando pela equipe responsável por montar as notícias, até
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chegar a quem vai apresentá-la. Aí, o sentido inicial não é o mesmo, visto que
são pessoas diferentes, que fazem parte de contextos sociais distintos e, até
mesmo, com ideologias divergentes (RAMOS, 2006). Partindo dessas duas ideias
principais, o presente artigo foi redigido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste artigo, dos noventa e sete trechos transcritos da primeira temporada
da série Orange Is The New Black, apenas três foram trazidos para fins de análise.
Além desses trechos, captura de tela de algumas cenas, que são cruciais para
análises complementares, já que, na perspectiva discursiva, o texto imagético
também contempla diversos discursos. Com fins de ampliar a compreensão dos
leitores deste artigo, será apresentado um resumo da série, bem como a ideia
principal da mesma, antes das análises propriamente ditas.
Conforme mencionamos, o referencial teórico-metodológico usado para
a análise dos trechos constituintes do corpus é a AD. Essa, por sua vez, se constitui
como um referencial teórico-metodológico que inclui questões sociais, históricas
e até mesmo ideológicas, pois um discurso é escrito/falado por alguém para
outrem, o que implica muitos outros elementos relacionados ao texto/fala, além
da própria transmissão de ideias. Nas palavras de Orlandi (2003), “(...) não
discurso sem sujeito. E não há sujeito sem ideologia”.
A série é narrada a partir de uma personagem principal, uma moça chamada
Piper Chapman, que foi condenada a uma pena de 15 meses em uma penitenciária
de segurança mínima, denominada Lichfield, por carregar uma mala cheia de
dinheiro de narcotraficantes. Na época, Piper era uma jovem universitária que
estava em busca de novas aventuras, então conhece Alex Vause, uma
narcotraficante que morava na universidade, e acaba se relacionando com ela, o
que leva Piper a carregar a tal mala de dinheiro. Com o decorrer do drama de Piper,
histórias de outras presas, que estão em um contato maior com a personal
principal, são relatadas, em forma de lembranças delas, e trazem explicações de
como foram parar em Lichfield. Dentro da prisão, as detentas são chamadas por
seus sobrenomes e todas possuem um orientador, sendo o de Chapman o senhor
Healy. As detentas fazem todos os serviços da prisão, sendo supervisionadas por
guardas, 24 horas do dia.
Partiremos agora para as análises propriamente ditas dos três trechos
selecionados. Primeiramente apresentaremos os sentidos por s identificados
nos trechos, acerca dos temas sexualidade, corpo e gênero. Posteriormente,
trataremos de exemplos/formas de se apresentar e estudar tais sentidos
identificados, nos atendo às possíveis influências nos processos de construção de
sentidos sobre tais temas, ou seja, à condições de produção desses sentidos. Tal
sequência foi assim pensada como uma estratégia para enriquecer o Ensino de
Ciências, quando tratada a educação sexual em sala de aula.
O primeiro trecho, correspondente à figura 1, traz sentidos e compreensões
sobre sexualidade, e está no primeiro episódio da primeira temporada. Esse
episódio aborda grande parte da história de Chapman, pois a série inicia com sua
rendição e durante o período em que Larry, seu noivo, a leva até Lichfield, vários
flashbacks sobre os últimos dias de Piper, ainda livre, aparecem, bem como seu
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primeiro dia de prisão, que foi muito conturbado. O trecho que será analisado
começa em 11’ (onze minutos) e acaba em 12 (doze minutos), e mostra como foi
para Piper contar à família que seria presa:
Figura 1 - Familiares de Piper (da esquerda para a direita: pai, mãe, avó e irmão)
Fonte: captura de tela - Netflix, Orange Is The New Black, episódio 1, temporada 1.
“Piper: ‘Eu nunca transportei drogas, só dinheiro’;
Mãe Piper: ‘Você era lésbica?’;
Piper: ‘Na época’;
Irmão Piper: ‘E ainda é?’;
Piper: ‘Não, eu não sou mais lésbica’;
Noivo Piper (Larry): ‘Tem certeza?’;
Piper apenas suspira;
Avó Piper: ‘Uma vez eu beijei Mary Strailler na escola da Srta. Potter, mas não era
pra mim’;
Irmão Piper: ‘Nossa (voz surpreso)’;
Pai Piper pergunta a Larry: ‘Você sabia disso?’;
Larry: ‘Não, não, não, eu não sabia. Ela me contou das viagens depois da
faculdade, mas ela não mencionou a amante lésbica que era traficante
internacional, imaginem a minha surpresa (toda a fala em tom nervoso)’;
Todos estão com cara de decepcionados. Avó Piper pergunta: ‘E o que você fez
com todo esse dinheiro?’;
Piper responde, em tom provocativo: ‘A questão, vovó, é que eu não tava
interessada no dinheiro’;
Avó, indignada: ‘Oh, Piper! Pelo amor de Deus!’;
Irmão Piper ri, enquanto os demais permanecem com a cara de decepção.”
(Trecho 1, grifos nossos)
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Na fala inicial de Piper: “Eu nunca transportei drogas, dinheiro”,
destacamos, de acordo com a AD, a noção de interdiscurso. Quando ela se refere
ao fato de ter cometido um crime, já o menciona de forma a amenizar seu relato,
pois, talvez, o que ela esperava como resposta de seus familiares seria uma reação
um tanto horrorizada, devido à posição social ocupada por uma pessoa envolvida
com o tráfico de drogas. O interdiscurso aqui se liga com a memória discursiva,
pois o interdiscurso existe porque o que estamos dizendo faz sentido por ter
sido dito antes. Em outras palavras, Piper se colocou no lugar de quem a ouvia,
isso, na AD, é chamado de mecanismo de antecipação, quando o sujeito se coloca
na posição de seu interlocutor, ou seja, a fala é realizada de tal forma por conta de
expectativas prévias. Nesse caso, a família de Piper é de classe alta e tradicional,
então ela traz seu discurso de forma a amenizar o crime cometido, pois sabe que
o traficar é algo errado legalmente, e também socialmente (memória discursiva),
dizendo que apenas transportou dinheiro, não drogas, que seu crime não foi tão
grave quanto parece.
O que ela recebe, porém, em resposta de sua mãe é “Você era lésbica?”,
seguido de um “E ainda é?”, de seu irmão, e um “Tem certeza?”, de seu noivo. As
próximas falas também giram ao redor do fato de Piper ter uma ex-namorada.
Aqui, pudemos notar um silenciamento por parte de Piper, pois ela nunca havia
mencionado a seus familiares o fato de ter, um dia, namorado uma mulher. O
silenciamento, para Orlandi (2007, p. 31), é uma forma de dizer, pois ele traz
sentidos, mesmo não ditos. Nas palavras dessa autora O silêncio é. Ele significa.
Ou melhor: no silêncio, o sentido é”.
Ao omitir essa parte de sua vida, Piper queria, possivelmente, evitar os
comentários que escutou, todos transcritos no primeiro trecho, comentários esses
negativos sobre o fato, mas que, ao final do trecho, são rebatidos por Piper, em
sua última fala: “A questão, vovó, é que eu não tava interessada no dinheiro”. Se
analisarmos a figura 1, podemos perceber a cara de decepção de todos os
presentes na sala, e chegar a três possíveis sentidos: a decepção é causada pela
prisão em si ou é causada pelo fato de Piper ter sido lésbica ou ainda a junção
das duas coisas (porém, pelo discurso apresentado, que envolve apenas falas
relacionadas à antiga relação amorosa de Piper, provavelmente o segundo sentido
construído é o que mais aponta ao relatado). Nessa análise apontamos duas
filiações de sentidos, em relação à homoafetividade/homossexualidade: uma
relacionada a não aprovação social de seu relacionamento, principalmente
presente no discurso imagético da Figura 1. Assim, tal discurso pode remeter, até
mesm, ao crime por ela cometido, algo presente na fala de seu noivo Larry, ao
proferir (...) a amante lésbica que era traficante internacional”. Em contrapartida,
outra filiação de sentido, relacionada ao aspecto passional, foi por s identificada
na fala de Piper, quando seu discurso remete ao fato de estava com Alex (sua ex-
namorada), porque a amava e cometeu tal crime por isso.
Ainda em relação ao primeiro trecho, discursivamente levantamos
novamente a antecipação de Piper ao silenciar o fato de ter tido uma namorada,
pois Piper se colocou no lugar das pessoas que não compreenderiam suas escolhas
afetivas e isso é muito comum. Muitos discursos de ódio são proliferados, quase
que todos os dias, por diversos meios de comunicação, sejam eles virtuais ou
pessoais e isso é notável no dia-a-dia. Analisando historicamente o fato, relações
homoafetivas eram vistas como algo abominável, as pessoas que se relacionavam
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
assim eram ditas doentes pela medicina, pecadoras pela teologia e criminosas
perante a lei (FREIRE; CARDINALI, 2012). Felizmente, com os Direitos Humanos e a
uma mudança na cultura da sociedade isso em relação aos tabus, crenças,
preconceitos etc. hoje a concepção homossexual passou por mudanças, no seu
estilo de ser e estar, ampliando suas inserções na sociedade, porém, a homofobia
ainda é muito presente na vida dessas pessoas (NASCIMENTO, 2010). Todos esses
fatos mencionados existiam, estavam e apontavam para outros sentidos e
discursos. Piper, ao se antecipar, esperando falas parecidas com as que ouviu,
silenciou-se, pois já sabia desses sentidos pré-construídos, os quais poderiam
aparecer nas falas deles interdiscurso.
O segundo trecho, representado na figura 2, está presente no terceiro
episódio e traz questões relacionadas ao gênero. Dentre as presas de Lichfield
nome que recebe a penitenciária em que toda a trama é desenrolada existe uma
mulher transgênero, de nome Sophia Burset. Sophia foi presa por fraudar cartões
de crédito (fato esse possível de se perceber no desenrolar do terceiro episódio,
incluindo um momento no presente trecho). O trecho em questão é uma memória
de Sophia, antes de ser presa, ela está em uma loja de calçados com seu filho
Michael, para comprar um tênis novo para o garoto. O trecho se inicia no tempo
33’20” (trinta e três minutos e vinte segundos) e termina em 34’40” (trinta e quatro
minutos e quarenta segundos):
Figura 2 Sophia, Michael, vendedor (agachado) e Pet, em sua chegada
Fonte: captura de tela - Netflix, Orange Is The New Black, episódio 3, temporada 1.
“O vendedor diz ao garoto: ‘Se quiser passar por isso, eu recomendo o
Jordan’;
Sophia: ‘É maneiro’;
Michael: ‘É muito gay. Gosto do Le Bron’;
Vendedor: ‘Cano alto ou baixo?’;
Michael: ‘Os dois’;
Sophia: ‘Não, escolhe um, filho’;
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Vendedor: ‘Se tiver que escolher, cara, recomendo o cano baixo, é muito
irado, é o tênis mais maneiro lançado esse ano’;
Sophia: ‘E quanto custa?’;
Vendedor: ‘300 (trezentos)’;
Michael a olha e diz: ‘Vamo leva, né?!’;
Enquanto ela abre a carteira, Michael avista a dezena de cartões de crédito
que Sophia tem e então os dois se olham, Sophia tem um olhar de culpa;
Vendedor: ‘Levanta aí cara, anda um pouco, você vai adorar esse tênis’;
Um conhecido de Sophia e Michael aparece na loja, e vai até o vendedor, é
quando reconhece Michael: ‘Com licença, você tem… Oi, Michael! O que que
você tá fazendo aqui?’;
Eis que o conhecido avista Sophia e fica surpreso: ‘Que isso!’;
Sophia: ‘Como vai, Pet?’;
O moço fica sem jeito e muito desconfortável, gaguejando, então Sophia
diz: ‘Pois é’;
O rapaz gagueja mais um pouco e diz: ‘A Débora fazendo compras e eu
resolvi…’;
Sophia o interrompe: Você recebeu minha carta? Eu queria ter notícia sua’;
Pet: ‘É, eu tava… É, desculpa, eu tenho que ir’ e então se retira;
Sophia olha para Michael, que está super bravo, e Pet diz: ‘Se cuida, Michael!
Tênis maneiro, hein?!’;
Michael não diz nada e Sophia então tenta mudar de assunto, indo falar com
o garoto, um tanto sem graça: ‘Pra algumas pessoas é difícil…’;
Michael levanta e chuta uma pilha de sapatos que está na porta da loja e
sai, Sophia o chama e o repreende pela ação, mas ele vai embora;
Vendedor: ‘Senhor... Senhora, tem que pagar pelo tênis’;
Sophia está quase chorando.” (Trecho 2, grifos nossos)
Esse trecho aponta para a temática gênero, salvo uma fala de Michael: no
início da cena que mostra uma das lembranças de Sophia, o menino está falando
com o vendedor, que está lhe ajudando a escolher o melhor tênis. Quando o
vendedor diz para que ele escolha um determinado calçado, Michael diz “É
muito gay e prefere um outro tênis. Ao proferir tal frase, o garoto parece conferir
ao termo gay um novo sentido, na AD essa ressignificação de um termo é
denominada polissemia, onde uma ruptura no processo de significação. Essa
polissemia se faz possível caso a história seja passível de ruptura, ou seja, ao
decorrer dos fatos históricos em uma sociedade, um termo pode receber um novo
significado, dependendo do novo contexto inserido. A palavra gay vem do inglês e
significa alegre, tendo origem também do português gai, com significado parecido,
e desde o século 13 é usada como sinônimo de homossexual, sendo que, há mais
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de três décadas foi incorporada pelos próprios homossexuais como designação
para si próprios (POSSENTI, 1995). Em diversos meios, incluindo o ambiente
escolar, o termo gay é muito utilizado com esse mesmo sentido que Michael traz,
de forma pejorativa, e isso vem da história e cultura de toda uma sociedade, como
discutido anteriormente, devido a forma como homens homossexuais eram
vistos antigamente e muitas vezes ainda são na atualidade, como também
citado. Em âmbito escolar, segundo Roselli-Cruz (2011) “(...) alguns alunos podem
sofrer um tipo de bullying com o xingamento e com a representação de seus atos
motores, gestos e fala estereotipada, que caracteriza um tipo de bullying
homofóbico”.
Partindo agora para o tema gênero em si, o segundo trecho traz o
reencontro de Sophia com um velho amigo, Pet, que, ao avistá-la, ficou totalmente
sem saber o que fazer, proferindo, até mesmo, a seguinte frase, como se tivesse
tomado um susto ao se deparar com Sophia: “Que isso!”. Com essa fala do
personagem Pet, percebemos o que na AD é chamado de esquecimento
ideológico, que nada mais é do que algo intrínseco, algo inconsciente, pois
nascemos inseridos em um discurso pronto. Ou seja, ao dizer “Que isso!” quando
avistou Sophia, o homem apenas parafraseou sentidos de um discurso com o qual
se identifica, mesmo que inconscientemente - de que um transgênero é algo
assustador, errado, algo que não faz parte de seu meio. Nesta análise, achamos
também importante salientar o alcance que uma transexual em uma série tão vista
como Orange Is The New Black pode atingir. Segundo um levantamento do Grupo
Gay da Bahia (GGB), em 2015, 134 transgêneros foram mortos no Brasil e segundo
a ONG internacional Transgender Europe o Brasil é o país que mais mata essa
parcela da população e nem todos os casos são registrados (LEITE, 2016).
Ainda em relação ao segundo trecho, a fala de Sophia e Pet que, onde o
conhecido de Sophia gagueja muito, a fim de quebrar aquele momento um tanto
constrangedor, ela o questiona sobre uma carta que enviou e o que Sophia recebe
de resposta é “É, eu tava… É, desculpa, eu tenho que ir”. Aqui pudemos notar outro
silenciamento, que, segundo Orlandi (2007) é “o silêncio fundador, aquele que
existe nas palavras, que significa o não-dito e que dá espaço de recuo significante,
produzindo as condições para significar”. Ou seja, ao questionar Pet porque ele
não a respondeu por todo esse tempo, e esse hesitar, deixando-a sem uma
resposta propriamente dita, parece emergente esse silêncio fundador, que atua na
significação de algumas coisas para Sophia, como a não compreensão por parte de
Pet sobre a mudança que ela sofreu. Isso é possível perceber na própria fala de
Sofia, quando Pet vai embora e ela diz a Michael “Pra algumas pessoas é difícil...”
que tanto é uma compreensão no sentido de falta de informações sobre o caso,
como de preconceito, mas, no sentido ideológico, de que isso é errado e causa uma
certa vergonha em Pet, o que o leva a se esquivar em sua resposta.
Sobre esse segundo trecho ainda, o fato de que Michael sai correndo após
o encontro com Pet na loja de calçados também traz um significado: o garoto não
aceita o fato de Sophia ser uma mulher transexual e tem vergonha disso, o que o
deixa muito irritado, como ilustra a figura 3, momentos antes de sua fuga:
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
Figura 3 Momentos antes de Michael sair correndo da loja de calçados, encarando com
raiva Sophia
Fonte: captura de tela - Netflix, Orange Is The New Black, episódio 3, temporada 1.
Antes da transição, Sophia era Marcus, um bombeiro. Nas cenas iniciais
desse mesmo episódio (três), cenas de Marcus no vestiário são relatadas, onde
mostram ele, ao retirar sua camisa, revelar um sutiã cor de rosa. Em outras
lembranças de Sophia ao decorrer do episódio, Crystal, sua esposa, aparece,
auxiliando Sophia com suas novas roupas. Sophia tem uma família, teve um filho
com Crystal antes da transição. Dentre uma gama de sentidos, que depende das
histórias de leitura e do contexto sócio-cultural de cada espectador, de maneira
generalizada e alinhada às condições de produção amplas de alguns discursos de
nossa sociedade, apontamos alguns que podem ser construídos a partir dessas
cenas: o primeiro, como já dito, é o sentido da não aceitação da parte de Michael,
e o segundo é o de apoio que Crystal a Sophia, ao ajudá-la. Muitos casos de ódio
e não aceitação por parte da família são observados nos casos de transgêneros,
mas também vários outros casos de aceitação e apoio, vindo também por parte
dos entes queridos. Mostrar esses dois lados durante a série é crucial, pois ilustra,
mais uma vez, como é para a pessoa transgênero viver da forma como sempre quis
e nasceu para ser.
Em relação ao final desse segundo trecho, mais especificamente sobre a
última fala do vendedor, referindo-se a Sophia, porque Michael saiu correndo da
loja, calçando o tênis que queria comprar: “Senhor... Senhora, tem que pagar pelo
tênis”. Ao se “confundir” em como chamar Sophia, dois pontos teóricos podem ser
levantados, segundo a AD: o primeiro seria, novamente, o esquecimento
ideológico, identificado por nós pelo rapaz chamar Sophia de senhor, quando ele
então percebe que ela é uma mulher transexual. Aqui entra um problema
recorrente na vida dos trans numa sociedade fudamentada na ideia
heteronormativa, em que existe apenas o binarismo macho-fêmea, relacionado ao
sexo que a pessoa nasceu (BARBOSA; SILVA, 2015). Ou seja, nessa ideia, Sophia
será sempre “ele”, pois nasceu homem, sem espaço para o gênero com o qual se
identifica; e o segundo ponto teórico é a formação discursiva, a posição que o
sujeito que escuta tem em relação ao sujeito que fala. Nesse caso, nas falas iniciais,
o vendedor tratava Sophia de uma forma, como aparenta ser: mulher e, após
perceber que ela é uma mulher transexual, o jeito como ele passa a se referir a ela
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
muda totalmente, pois o modo como Sophia é vista pela sociedade é como uma
pessoa inferior aos demais, repleto de preconceitos e discriminação.
O terceiro e último trecho, juntamente com a Figura 4, presente no tempo
41’25” (quarenta e um minutos e vinte e cinco segundos) a 42’20” (quarenta e dois
minutos e vinte segundos) do quarto episódio da primeira temporada, traz o tema
corpo. Essa passagem é uma lembrança da detenta Claudette Pelage, uma senhora
que, quando adolescente, deixou seu país de origem, o Haiti, e foi para Nova York,
a fim de pagar as dívidas de seus pais, trabalhar como doméstica em uma casa
destinada para isso nessa casa vivem muitas outras meninas que estão ali para o
mesmo fim que Claudette e são monitoradas por uma mulher, que recebe as novas
garotas. Quando adulta, Claudette tomou o lugar de monitora das meninas e
passou a ser conhecida como senhorita Claudette (do inglês da série, Miss
Claudette), então passou a cuidar e receber as novatas. A lembrança retratada no
trecho em questão envolve senhorita Claudette e a indisciplina, aparentemente,
de uma das novatas:
Figura 4 Novata da casa da senhorita Claudette mostrando seus hematomas
Fonte: captura de tela - Netflix, Orange Is The New Black, episódio 4, temporada 1.
“Claudette está falando com a novata: ‘Ouviu o que eu disse? Todas devem
tomar banho! Você entra lá, tira a roupa e toma um banho agora!’;
A menina não se mexe;
Claudette: ‘O que tá acontecendo? Menina, se explica!’;
A menina apenas abaixa a cabeça;
Claudete diz para as demais meninas que estavam ali: ‘Podem sair’;
Então ela leva a menina até o banheiro e fecha a porta, então pergunta: ‘O
que aconteceu com você? Pode falar pra mim’;
A menina começa a chorar, em seguida começa a se despir e mostra as
manchas roxas que tem espalhadas pelo corpo. Senhorita Claudette fica
horrorizada.” (Trecho 3, grifos nossos)
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
A cena pode ser analisada pelo viés do tema corpo, pois se trata de um caso
de abuso, violência contra mulher. O principal constructo percebido nesse trecho
é o silêncio. Durante toda a fala de senhorita Claudette, a menina novata não
profere uma palavra. Antes de as duas entrarem no banheiro, como mostra a
Figura 4, a garota permanece calada e apenas faz contato visual com Claudette,
como mostra a Figura 5:
Figura 5 Novata na casa de senhorita Claudette sem proferir uma só palavra
Fonte: captura de tela - Netflix, Orange Is The New Black, episódio 4, temporada 1.
O silêncio, nesse caso, é o local, que, nas palavras de Orlandi (2007) é “(...)
que se refere à censura propriamente (aquilo que é proibido dizer em uma certa
conjuntura)”. Ou seja, a menina não disse nada, porque um discurso,
existente, de que ser abusada e/ou violentada é motivo para censura, pois é causa
de vergonha para ela, a vítima, caso seja relatado perante outras pessoas. Para a
moça, foi motivo de vergonha, por precisar mostrar à senhorita Claudette, como
retrata a Figura 4. No momento em que ela está levantando sua blusa, para
mostrar os hematomas que estão por todo o corpo, ela vira seu rosto, evitando
contato visual com Claudette.
É aqui que entra a importância de se tratar assuntos como a violência
doméstica e o abuso de menores, novamente, em um meio popular como essa
série. Em casos de estupro, por exemplo, muitas vítimas não vão até os órgãos
maiores, como a polícia, para fazer o boletim de ocorrência. Isso é uma decorrência
do fato que, na maioria das vezes, elas são julgadas por terem sido abusadas, a
frequente culpabilização da vítima, que, durante o interrogatório da queixa, são
obrigadas a ouvir perguntas como “Que roupa você estava usando?” e se o caso
tiver ocorrido à noite, ainda escutam “Fora de casa a uma hora dessas, podia
dar nisso mesmo”. Outro exemplo de violência contra mulher é a doméstica, que
também é, muitas vezes, escondida ou apenas esquecida” (trazemos o termo
entre aspas, visto que as consequências psicológicas não permitem que tal fato
seja, realmente, esquecido). Nesse outro caso a vítima também é culpabilizada,
visto que muitos dos argumentos proferidos por quem é apenas espectador do
fato são do tipo “Ela gosta de apanhar, por isso ainda tá com ele”, porém, muitas
vezes, o agressor ameaça a vítima, caso ela tente tomar alguma providência
quanto ao caso. Felizmente, com a Lei Maria da Penha, os casos de violência
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
doméstica, hoje, são levados a sério pelas autoridades, os agressores são detidos
e o caso não é deixado de lado, como nos casos de estupro, que muitas vezes não
é feito nada contra o agressor e o atendimento a mulher é apenas um exame de
DNA, para a coleta de dados, e amparo psicológico (FAÚNDES et al., 2006).
ALGUMAS RELAÇÕES E CONSIDERAÇÕES
Trazendo agora de forma mais concreta a discussão das implicações dessa
mídia na Educação em Ciências, faremos a seguir algumas considerações sobre
como os trechos analisados podem ser utilizados pelo professor de Ciências e/ou
Biologia em suas aulas. Os livros de Ciências e Biologia, na maioria das vezes, não
abordam de forma ampla os temas sexualidade, corpo e gênero. A educação
sexual, nos livros didáticos, é apresentada, para o Ensino Fundamental, apenas no
oitavo ano, quando o assunto corpo humano é trabalhado, e aparece apenas no
estudo do sistema reprodutor, o qual, muitas vezes, encontra-se ao final do livro
ou os professores deixam para trabalhar mais para o final do ano. Quando ele é
trabalhado, muitas vezes, é trazido de uma forma, como Furlani (2008) classifica,
biológica-higienista:
é aquela, por muitas/os, considerada a prevalente (e até mesma a única) nas
ações educacionais voltadas à discussão do desenvolvimento sexual humano
no contexto, sobretudo, da escolarização formal. Costuma conferir ênfase na
biologia essencialista (baseada no determinismo biológico) e é marcada pela
centralidade ao ensino como promoção da saúde, da reprodução humana,
das DSTs, da gravidez indesejada, do planejamento familiar, etc. Por manter
inquestionáveis as premissas acerca do determinismo biológico, considera as
diferenças entre homens e mulheres decorrente dos atributos corporais o
que contribuiu (e contribui), tanto para ‘naturalização’ das desigualdades
sexuais e de gênero, quanto para a formulação dos enunciados que
hierarquizam essas diferenças (como, por exemplo, premissas machistas,
sexistas misóginas e homofóbicas). (FURLANI, 2008, p.19)
É dessa forma, biológica-higienista, que o livro didático tem seus conteúdos
estruturados, na maioria das vezes (senão todas) - começando por Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e terminando nos métodos contraceptivos e a
gravidez na adolescência. Como a própria autora aborda no trecho anterior,
podemos descartar a relevância de se tratar desses temas, porém, problemas
quando apenas dessa forma a educação sexual é trabalhada em sala de aula.
Mostrar aos alunos como são seus corpos, como eles funcionam, que existem
doenças sexualmente transmissíveis, e que elas podem ser graves, e que uma
gravidez no início de suas vidas sexuais pode ser algo indesejável, por vários
fatores, é importante. No entanto, também é importante mostrar a diversidade
que a sexualidade apresenta. É importante sair dessa heteronormatividade que
nos cerca, mostrar que existem pessoas homossexuais e que isso é natural, sempre
existiu, e que, inclusive, existe (e é frequente) em outras espécies animais, por
exemplo.
Ainda sobre os livros didáticos, caso seja feita uma análise breve (algo como
abrir nas páginas dedicadas à educação sexual) de como são dispostos os
conteúdos conceituais de Biologia do Ensino Médio (EM), por exemplo, pode-se
perceber que, na maioria das vezes, a educação sexual não foge muito do que
fora supracitado, o que se aproxima da abordagem biológica-higienista, porém, a
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
diferença é que o foco é maior para a reprodução humana. Os livros trazem o
assunto atrelado à embriologia, visto que apenas no EM os alunos m contato
com o desenvolvimento embrionário. Mais uma vez o discurso não aponta para a
diversidade da sexualidade, pois seus sentidos apontam apenas para reprodução,
homem e mulher, a heteronormatividade, que contribui para as desigualdades
sexuais e, por consequência, para discursos homofóbicos, como Furlani (2008) traz
no trecho supratranscrito.
Em relação aos temas corpo e gênero, esse discurso segue o mesmo padrão,
já que a autora também cita as desigualdades de gênero e as premissas machistas.
Muitos livros ilustram o assunto educação sexual com o corpo de um homem, seja
para introduzir o assunto, ou seja para os métodos contraceptivos geralmente,
quando os preservativos são citados, o masculino é o único ilustrado, isso quando
não é o único mencionado. Uma forma, então, de mudar essa abordagem dos
livros e ir além, poderia se dar por meio de materiais de outras fontes, que tratem
sobre sexualidade, corpo e gênero e que apontem para sentidos mais amplos e
menos normatizadores.
Assim como Ramos (2006), também percebemos que é possível se aprender
com as mídias. No entanto, no caso deste artigo, buscamos pontuar como uma
série, muitas vezes utilizada apenas como um meio de lazer por jovens e
adolescentes, pode influenciar na construção de sentidos sobre sexualidade, corpo
e gênero. Como caminho, apontamos a possibilidade de se levar os trechos pré
analisados até a sala de aula, a fim de contextualizar aulas que tenham como foco
promover a educação sexual, visando proporcionar ao aluno que ele tenha uma
maior criticidade perante alguns assuntos. Por exemplo, no primeiro trecho
analisado, que mostra como foi para Piper contar a sua família que seria presa,
notamos que o principal do assunto não fora o crime em si, mas sim o fato de que
Piper teve relações homoafetivas. Percebemos dois sentidos quanto a isso: a
família enxergar a homossexualidade como algo negativo, com todo o discurso
apresentado, e o lado de Piper, que apenas seguiu suas vontades. Esse trecho se
adequaria bem a um trabalho do assunto sexualidade com os alunos, que fugiria
bastante da abordagem tradicional biológica-higienista e entraria na abordagem
dos Direitos Humanos:
é aquela que fala, explicita, problematiza e destrói as representações
negativas socialmente impostas a esses sujeitos e às suas identidades
‘excluídas’, num processo educacional que é assumidamente política e
compremetido com a construção de uma sociedade melhor, menos desigual,
mais humana na totalidade semântica desse termo. (FURLANI, 2008, p.26)
Ou até mesmo na abordagem dos Direitos Sexuais:
Falar em Direitos Sexuais para o movimento GLBTTT é... Alterar o contexto
social que promove a exclusão social, a homofobia, a lesbofobia e a
discriminação sexual. Garantir a visibilidade da diferença é uma estratégia
mundial (as passeatas do Dia do Orgulho Gay 28 de junho; no Brasil, o dia
do Orgulho Lésbico 19 de agosto), bem como a aparição na mídia, em
eventos culturais, em processos políticos em eleições (lançando
candidatas/os), forçando o ‘assumir’ público de celebridades e artistas (para
aquelas facções mais radicais do movimento). (FURLANI, 2008, p.29)
Pensamos que uma forma mais ampla de abordar o assunto sexualidade seja
possível a partir da junção dessas duas abordagens. Por exemplo, com o trecho
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
número um do presente artigo, é possível explicitar e problematizar a situação,
trazendo as duas visões acerca do assunto, negativa e positiva, buscando
confrontar as formações preexistentes e estimular os estudantes a que pensem
sobre o assunto. Então, em conjunto com as abordagens dos Direitos Humanos e
dos Direitos Sexuais, se faz possível garantir, assim, tanto a visibilidade dessa
parcela da população que, muitas vezes, sofre com a homofobia, quanto a
oportunidade de que os jovens e adolescentes construam uma criticidade maior
perante o assunto.
A mesma abordagem dos Direitos Sexuais entra quando falamos de gênero
e corpo, podendo, também, abordar tais assuntos com a ajuda dos trechos dois e
três, respectivamente. Dois trechos no livro de Furlani (2008) resumem bem o
porquê dos dois assuntos encaixarem também na abordagem citada, sendo que o
primeiro fala da regulamentação da lei de redesignação de sexo, bem como do
registro civil, para transexuais, luta essa que está na agenda GLBTTT
2
:
Até o ano de 1997, no Brasil, era proibida a cirurgia de mudança de sexo.
Naquele ano, o Conselho Federal de Medicina, através da resolução
1482/1997, regulamentou as condições para a cirurgia transgenital e definiu
aspectos legais e éticos, atrelando-a somente aos hospitais universitários
(hospital-escola) a título de pesquisa científica, sem o caráter financeiro. Hoje,
após a cirurgia, processos judiciais específicos, visando a alteração do registro
civil, permitem que transexuais obtenham nova carteira de identidade com
nome adequado ao novo sexo e ao novo gênero. (FURLANI, 2008, p.29)
A partir do trecho da memória de Sophia Burset e os sentidos nele
percebidos, e partindo do preconceito vivido por ela, uma discussão acerca dos
direitos das pessoas transexuais pode ser feita em sala de aula, juntamente com o
trecho transcrito acima, a fim de promover o respeito e uma compreensão da
importância de se tratar tal assunto.
Furlani (2008) também traz um trecho discorrendo a importância de se
tratar sobre a violência contra a mulher:
Mas os desafios da sociedade e das políticas públicas, voltadas a outras
conquistas para as mulheres, são muitos e continuam. Por exemplo, a
denúncia e combate das muitas formas de violência e sua relação com a saúde
integral da mulher são um aspecto merecedor de atenção. As mulheres
vítimas de violência estão mais vulneráveis a dores crônicas, doença mental
[estresse, depressão, angústia, etc.], DSTs, gravidez indesejada, aborto
[espontâneos e/ou provocados], doença inflamatória pélvica, consumo de
drogas, distúrbios gastrointestinais. (FURLANI, 2008, p.27-28)
A partir do trecho analisado aqui nos discursos relacionados ao corpo, que
mostra uma lembrança da detenta Claudette, juntamente com o trecho transcrito
acima, uma discussão sobre a importância do tema violência contra a mulher pode
ser iniciada.
Se faz mais do que necessário abordar sexualidade, corpo e gênero nos
ambientes escolares. Compreendemos que, apesar da transversalidade indicada
ao tema nos documentos oficiais da educação brasileira, no Ensino de Ciências a
abertura para tal é um pouco maior, visto que grande possibilidade de se
criarem links com os assuntos estudados. A escola, além da tradicional forma
conteudista, deve trazer também os assuntos transversais, pois é também um
ambiente de ensino dos valores humanos, como o respeito. Há muito preconceito
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
ainda em nosso cotidiano, o que leva aos discursos de ódio, muitas vezes
infundados. Precisamos inverter o quadro. O simples fato de trazer dados sobre
quantas pessoas são agredidas (física e verbalmente) e mortas, pela opção sexual
ou por seu gênero, por exemplo, faz com que os alunos reflitam sobre esse
problema. Muitas vezes é a falta de informação que leva a esses quadros de
violência desnecessária e o ambiente escolar é um potencial meio de se difundir
tais conhecimentos e promover discussões.
Uma das confluências mais significativas parece ser a de buscar mesclar as
aulas tradicionais aos meios alternativos, como o proposto pelo presente artigo.
Nesse sentido, a inserção de mídias e artefatos midiáticos, como a série em
questão, fazem com que o aluno tenha maior interesse e se sinta parte real daquilo
que está estudando, além de promover uma maior criticidade, pois, discutir os
sentidos e discursos possíveis no contato com essas mídias, confere a possibilidade
de uma formação mais crítica e de respeito das diferenças, perante os temas
sexualidade, corpo e gênero.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
Media representations of body, gender and
sexuality an analysis of the TV Show
Orange Is The New Black
ABSTRACT
The media crosses, defines and completes our daily interactions. At school this has not been
any different. However, due to lack of theoretical-practical appropriation and little didactic
visibility, some media artifacts, when associated with the pedagogical aspect, can be
negatively generalized as villains and cause of indiscipline. Starting from these ideas, as well
as from our experiences in school, together with the assumption of some controversial
issues / taboos in current discourses, this article will analyze the excerpts from the American
series "Orange Is The New Black", accessed often by school-age youth and adolescents. In
order to do so we will use the French Discourse Analysis (DA) for discussing how the themes
sexuality, body and gender are represented in the series, besides analyzing how these
representations can influence the construction of meanings about such themes. We will
also try to verify if there is a possibility of learning from the media in the scope of Science
Teaching, in a more contextualized approach to sex education. The series presents social
contents, which can be discussed in the classroom for the study of cross-cutting themes,
especially in relation to sexual education and in the themes sexuality, body and gender, in
an alternative to the biological-hygienist approach, from other aspects such as human and
sexual rights.
KEYWORDS: Media. Sexuality, Body and Gender. Sex Education. Discourse analysis.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271 -291, mai./ago. 2018.
NOTAS
1
Informação disponível em https://goo.gl/Yr28rc.
2
Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Transgêneros.
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Recebido: 31 jan. 2018
Aprovado: 24 jun. 2018
DOI: 10.3895/actio.v3n3.7710
Como citar:
SCHLÖSSER, T. C.; PEREIRA, P. B. Representações midiáticas de corpo, gênero e sexualidade uma
análise da série Orange Is The New Black. ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 271-291, set./dez. 2018. Disponível
em: <https://periodicos.utfpr.edu.br/actio>. Acesso em: XXX
Correspondência:
Tainá Cordova Schlösser
Rua Fernando de Noronha, n. 637, Bairro Santa Cândida, Curitiba, Paraná, Brasil.
Direito autoral: Este artigo está licenciado sob os termos da Licença Creative Commons-Atribuição 4.0
Internacional.