ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 133-153, mai./ago. 2018.
A formação discursiva, por sua vez, ditará aquilo que deve ou não ser dito,
preservando discursos anteriores, sempre na busca de uma linha limítrofe para seu
domínio discursivo. A esse movimento dá-se o nome de paráfrase e, de maneiras
diferentes, se profere sempre o mesmo. Assim, a formação discursiva condiciona
os ditos dos sujeitos que compreendem o mundo pelo arsenal ideológico. Todavia,
é pela polissemia que esses limites se expandem e se apoderam de novos usos de
ditos anteriores (BRANDÃO, 2002). É por isso que na análise de uma produção
discursiva, deve-se sempre levar em conta aquilo que já está fixo, o interdiscurso,
e o que está em transformação, intradiscurso.
Mas, um mesmo signo pode produzir diferentes sentidos em função do
contexto no qual está significando. Orlandi (2003) explica que, este contexto é
chamado de condição de produção, que compreende
fundamentalmente os sujeitos e a situação. [...] Podemos considerar as
condições de produção em sentido estrito e temos as circunstâncias de
enunciação: é o contexto imediato. E se as considerarmos em sentido amplo,
as condições de produção incluem o contexto sócio-histórico, ideológico
(ORLANDI, 2003, p. 30).
Esse tipo de entendimento é que deu origem à Análise de Discurso, uma vez
que há diferentes formas de estudar a língua: “Na análise de discurso, procura-se
compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do
trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história” (ORLANDI, 2003,
p.15).
Dessa forma, a mesma palavra pode produzir diferentes sentidos em
diferentes ocasiões, épocas e locais. Por seu caráter polissêmico e por ser produto
social e histórico é que a língua não é considerada neutra e inocente, à medida que
também sempre possui interesses dos sujeitos. Por conseguinte, há manobras
discursivas que atendem a essas finalidades. Um enunciador está sempre em uma
formação imaginária da qual fala em seu contexto de produção. Em outras
palavras, ele sempre fala, vestindo, o que chamo aqui, máscara social: o
enunciador pode falar como mãe, como pai ou filho, como estudante ou professor,
como amigo, patrão ou funcionário. Os discursos dessas diferentes formações
imaginárias seguirão regras específicas de acordo com suas condições de
produção. Além disso, ao emitir um discurso, um enunciador pode também
presumir a formação imaginária de quem o escuta e modelar o seu discurso. À vista
disso, os sujeitos usam também o mecanismo de antecipação, que prevê os
sentidos que seu interlocutor terá de seu discurso.
É justamente por essas manobras que, ao enunciar um determinado discurso,
o sujeito, na verdade, traz sentidos implícitos abaixo da superfície textual de seu
dito. Por exemplo, em uma segunda- feira de manhã, um empregado, insatisfeito
com seu serviço, pode dizer, ao chegar à empresa: “Como estou animado em
trabalhar aqui!”. Na verdade, este dito possui um não-dito, um dizer implícito: de
fato, o sujeito pode estar dizendo que está desanimado em trabalhar naquele
lugar. Igualmente, os discursos estão sendo manipulados a fim de, por diversos
motivos, produzirem outros sentidos. Da mesma forma, até mesmo um breve
silêncio pode significar algo.
Assim, é função do analista descortinar os discursos, revelando os sentidos e
ideologias por meio dos signos (que podem ser palavras), que não são