ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p.167-183, jan./abr. 2018.
INTRODUÇÃO
É lugar comum pensar que a filosofia emerge do espanto. Mas como pensa
educação, o ensino de química a partir do espanto? E por que o espanto? Porque
é um sentimento de admiração que experimentamos quando estamos diante de
situações, acontecimentos que fazem surgir interrogações. O espanto emerge da
interrogação, do desconforto, do desassossego, onde o que pensamos conhecer
pode não passar de uma ilusão. Desse modo, espantar-se com a educação, com o
ensino de química, é suscitar questões que se renovem constantemente,
encarando o mundo, a educação, a ciência como uma eterna novidade,
transvalorando e resistindo aos preceitos do presente.
Nesse sentido, espantar-se com o ensino de química é prezar por práticas
experimentadoras e criadoras. Assim, pensar o ensino de química sob o signo do
espanto, sem defender que a ciência seja superior em relação a outras áreas de
conhecimento, é reconhecer que ela é uma construção humana permeada por
vários espaços, que incluem instâncias políticas, econômicas e sociais.
Deleuze (1988, p.54) provoca a pensar que “nada aprendemos com aquele
que nos diz: faça como eu. Nossos únicos mestres são aqueles que nos dizem faça
comigo”, ou seja, aprendemos quando experimentamos, na ação. Nesse sentido,
esse trabalho pretende olhar para um recorte do seriado televisivo Breaking Bad
(2008) e criar espantos com a aula de química que o professor Walter White
oferece aos seus alunos. Escolhemos essa mídia televisiva por conter elementos
científicos/químicos em seu enredo, narrando a história de um professor de
química que recebe a notícia que está com câncer de pulmão e resolve produzir
mentanfetamina com um ex-aluno, Jesse Pinkman.
O recorte de cena selecionado do seriado televisivo, mostra uma aula onde o
professor White questiona seus alunos sobre “química é o estudo do quê?”. White,
professor de química do ensino médio, aparece em sala de aula perguntando o que
é química. A sala possui uma boa estrutura, com bancadas acopladas, vidrarias,
mas os alunos são retratados como desinteressados, deitados sobre as carteiras,
distraídos. No episódio os alunos não experimentam a química, o professor White
não os convida a fazer a aula com ele.
Pretende-se então, a partir desse recorte de cena, pensar e discutir a
educação, o ensino de química, uma aula de química, a escola, uma educação
menor, no sentido de não se apegar a um discurso totalitário, mas uma educação
marginal, movida pelo desejo, pela criação e participação ativa dos alunos.
Indo ao encontro do texto de Marlucy Alves Paraíso, com o título: “Currículo-
nômade: quando os devires fazem a diferença proliferar”, a autora nos provoca a
pensar um currículo nômade, lugar dos encontros improváveis, dos
agenciamentos, do desejo, atento às sensações, às necessidades das minorias.
Minorias que são multidões em devir, que não tem modelos pré-estabelecidos
para serem ensinados. Ainda no campo educacional, Corazza (2002, p. 13) coloca
que “somente por meio da loucura exaltada do pensamento, a imaginação
educacional poderá traçar o seu próprio plano de imanência e criar seus
personagens, enquanto a invenção conceitual instaura a sua festa”. Nesse sentido,
pensar em uma educação que resiste ao presente e se lança à deriva no mar da
criação. Um ensino de ciências que permita os alunos e alunas experimentarem e