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ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 148-166, jan./abr. 2018.
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Análise das percepções de estudantes do
ensino médio sobre o filme: “O Céu de
Outubro”
RESUMO
Daiane Thais Ludvig
Daya.ludvig@hotmail.com
orcid.org/0000-0001-5386-8039
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil
Bruna Patereck
brunaa.patereck@hotmail.com
orcid.org/0000-0003-2777-5925
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil
Caroline Fortuna
carolinefortunacf@gmail.com
orcid.org/0000-0003-3666-7870
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil
Claudia Regina Machado
Kliemann
claudiakliemann@yahoo.com.br
orcid.org/0000-0002-7903-1373
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil
Daiany Helscher da Silva
dai_anysilva@hotmail.com
orcid.org/0000-0001-7295-1006
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil
O presente artigo apresenta uma atividade realizada com estudantes do 3° Ano do Ensino
Médio sobre o filme “O Céu de Outubro”. Esse filme retrata o empenho de estudantes de
uma pequena cidade que se dedicam na construção de um foguete, a fim de serem
selecionados para a feira de ciências. Na atividade, os estudantes analisam criticamente
aspectos/contextos abordados no enredo do filme. O trabalho realizado teve como objetivo
propor aos estudantes uma análise crítica dos contextos familiares, políticos, históricos,
sociais e a atividade científica voltada para a feira de ciências apresentados no filme,
utilizando a proposta apresentada no artigo de Eduardo Fleury Mortimer e de Phil Scott,
que propõe uma ferramenta para analisar as intervenções e as intenções no discurso do
professor em sala de aula. O método de análise forneceu subsídios para inferir que o bom
andamento da discussão do filme depende das intervenções do professor, o qual medeia o
discurso para a intenção e o foco desejado, explorando a visão dos estudantes sobre os
contextos apontados no filme.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Química. Atividade discursiva. Percepções. Intervenções.
Filmes. Feira de Ciências.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 148-166, jan./abr. 2018.
INTRODUÇÃO
Fazer os alunos assistirem a um filme como estratégia de ensino é uma
atividade didática que pode ser relacionada com diversas áreas do conhecimento,
sendo uma delas a área de Ciências. Dessa forma, o professor pode utilizar essa
ferramenta para contemplar a sua aula, pois, além de ser uma metodologia
diferenciada, também é atrativa aos olhos dos estudantes e pode estimular a
reflexão crítica do que está sendo tratado no filme sobre as realidades humanas.
A escola se caracteriza por ser um espaço de conhecimento formal, mas não
é apenas isso, pois os estudantes possuem experiências anteriores e externas ao
espaço escolar. Dessa forma, o ambiente escolar se torna um “[...] espaço do
confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos
do cotidiano popular” (PARANÁ, 2008, p. 23), provenientes inclusive de filmes, por
exemplo. A escola é, então, certamente um espaço em que devem ser
consideradas as percepções dos estudantes.
O FILME EM SALA DE AULA
Ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige do professor determinação e
criatividade na busca de variadas metodologias de ensino para que esse objetivo
seja realmente alcançado. Nesse sentido, o cinema/filme pode ser utilizado, o
somente como forma de entretenimento, mas como uma ferramenta educativa
relevante para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem (COELHO; VIANA,
2010). Conforme destaca Cipolini (2008):
[...] o filme pode ser utilizado como instrumental didático ilustrando
conteúdos, principalmente referentes a fatos históricos; como motivador, na
introdução de temas psicológicos, filosóficos e políticos, estimulando o
debate; ou como um objeto de conhecimento, na medida em que é uma
forma de reconstrução da realidade (CIPOLINI, 2008, p. 19).
Podemos observar que os fatos históricos e os acontecimentos marcantes
para a sociedade são, diversas vezes, temas retratados em filmes, motivo pelo qual
“[...] muito da percepção que temos da história da humanidade talvez esteja
irremediavelmente marcada pelo contato que temos/tivemos com as imagens
cinematográficas” (DUARTE, 2002, p. 18). Referentemente a isso, é essencial
ressaltar que:
O significado cultural de um filme (ou de um conjunto deles) é sempre
constituído no contexto em que ele é visto e/ou produzido. Filmes não são
eventos culturais autônomos, é sempre a partir dos mitos, crenças, valores e
práticas sociais das diferentes culturas que narrativas orais, escritas ou
audiovisuais ganham sentido (DUARTE, 2002, p. 51-52).
Assim, a utilização do filme em sala de aula deve superar a mera ilustração de
algum fenômeno ou acontecimento. É essencial que seja buscado o significado do
filme, caracterizando o contexto da época de sua produção, contextualizando com
o cotidiano dos estudantes.
Utilizar filmes durante as aulas é um método de ensino considerado, por
diversos autores e diretores, como uma ferramenta essencial para a formação de
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significados, pois “O cinema possibilita o encontro entre pessoas, amplia o mundo
de cada um, mostra na tela o que é familiar e o que é desconhecido e estimula o
aprender. [...] aguça a percepção e torna mais ágil o raciocínio [...]” (ALENCAR,
2007, p. 137). Assim, quando utilizados em sala de aula, os filmes podem auxiliar
no processo de ensino-aprendizagem, aproximando o estudante do conteúdo em
estudo, proporcionando a articulação entre o filme e a temática estudada.
Podemos pontuar aspectos que o constituem esse tipo de estudo
positivamente, pois a utilização do filme em sala de aula pode ser considerada uma
ferramenta de ensino relevante, que auxilia na assimilação da temática em estudo.
Além disso, provoca um maior impacto inicial em comparação com a simples
escrita sobre a temática, e também incentiva o envolvimento, pois permite que o
estudante relacione as cenas do filme com o seu cotidiano. Isso ocorre, de acordo
com Viana (2002), pois:
O adequado equilíbrio entre as palavras e as imagens facilita os processos de
desenvolvimento do pensamento em geral e, em particular, no processo de
ensino/aprendizagem. É por isso que se assinala que sem sensações,
percepções e representações não desenvolvimento do pensamento; daí
ser importante, sempre que possível, além das palavras, usar representações
visuais (VIANA, 2002, p. 77).
Dessa forma, o autor afirma que as crianças aprendem vendo filmes. Além
disso, criam estímulos e interesse para lerem textos escritos, sendo que isso não
acontece somente em crianças, mas também em jovens e em adultos. Assim, é
relevante que o professor destaque, dos filmes, fragmentos que podem causar
reflexões críticas e instigar o raciocínio dos estudantes. Dessa forma, o docente
conduzirá a intermediação entre o filme e o conhecimento.
De acordo com Cipolini (2010), o filme pode auxiliar na estruturação de
temáticas das aulas de Ciências e para disciplinas diversas e também pode dar
alicerce à elaboração de inúmeras atividades, como, por exemplo, de uma feira de
ciências. A partir do filme, os estudantes se baseiam em experiências vividas por
personagens e as relacionam com as suas perspectivas, motivando-os a planejar
novos projetos e a incorporarem as necessidades da sociedade. Por isso, é
essencial ressaltar que o cinema exige do telespectador um olhar atento, pois pode
ser influenciado por diversos fatores externos, como, por exemplo, o contexto
social, econômico, familiar e cultural.
Assim, é possível perceber, entre os estudantes, como, individualmente, vão
formando ideias diferentes sobre o filme.
PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES SOBRE CIÊNCIA
Atualmente o ensino de Ciências das escolas brasileiras ainda acontece,
muitas vezes, de forma tradicional. Entretanto, muito tem sido questionado sobre
esse formato de ensino e aprendizagem e, nos últimos tempos, tem aumentado o
número das pesquisas com o intuito de suplantar esse modelo.
A chamada Alfabetização Científica passou a ser compreendida como
essencial para a formação de uma educação cidadã, para o entendimento e a
utilização dos conhecimentos científicos na própria vida do estudante e no seu
convívio em sociedade (SASSERON; CARVALHO, 2011). Essa Alfabetização
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Científica apresenta-se então com o intuito de desenvolver um pensamento crítico
sobre os contextos nos quais os estudantes estão inseridos, para que tenham a
compreensão dos assuntos tratados e possam sobre eles assumir um
posicionamento pautado em argumentos, o que acarreta uma percepção maior do
mundo e das coisas que os cercam.
Tal percepção inclui analisar, compreender, buscar informações, criticar,
argumentar sobre ciência e tecnologia. Isso não é nada mais que reproduzir em
sala o que acontece cotidianamente em pequenas ações, relacionadas
diretamente com a vida, com o futuro próximo, formar cidadãos críticos
permitindo uma maior qualidade de vida.
Associados a isso, os estudos tradicionais sobre percepção da ciência são
baseados em conhecer o grau de interesse pela informação científica em formas
de percepções visuais, abandonando fatores que envolvem a mente.
Santaella (1998) comenta, em seu capítulo introdutório, que o século passado
viu emergir diversas teorias de percepção, havendo foco sobre os aspectos visuais
implicados. A autora nota que tão forte foi a prevalência do visual nos estudos que
a relação com a mente foi de certa forma excluída.
No entanto, Cunha (2009) considera que a percepção é algo mais abrangente,
e destaca que:
[...] não é uma mera detecção ou reação aos estímulos internos ou externos
ao indivíduo. Ao contrário do ato de sentir, perceber é detectar, é interpretar
sinais que têm origem externa ao sistema nervoso central [...] é uma
elaboração em que o alicerce são as sensações, as memórias, as vivências, as
experiências e as expectativas, sejam elas inatas ou adquiridas por meio da
interação com o meio. Por isso, a percepção é um processo mental seletivo,
ou seja, não percebemos tudo aquilo que chega aos nossos órgãos dos
sentidos. O mundo exterior é oferecido a nós como um cardápio variado e, a
partir de nosso modo de perceber, selecionamos eventos e situações
deixando de fora os que não nos fazem sentido (CUNHA, 2009, p. 28).
Dessa forma, é possível afirmar que uma mesma situação pode ser percebida
de maneiras diferentes por pessoas distintas, pois as percepções são subjetivas,
formuladas individualmente e de acordo com as experiências vividas de cada um,
conferindo-lhe um valor próprio. Assim, cada indivíduo, conforme a sua realidade,
constrói os conhecimentos sobre as coisas.
MÉTODO
CARACTERIZANDO A ATIVIDADE REALIZADA
Neste estudo relatamos uma atividade desenvolvida em aulas de Química do
Colégio Estadual Jardim Gisele, Toledo-PR. Foi elaborada por um grupo do PIBID,
composto por acadêmicas do Curso de Química Licenciatura da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, e desenvolvida com uma turma da 3ª série, do Ensino
Médio, composta por 17 estudantes com idade entre 16 e 17 anos. A atividade
teve duração de três aulas e teve o objetivo de propor aos estudantes uma análise
crítica dos contextos familiares, políticos, históricos, sociais e a atividade científica
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voltada para a feira de ciências, contextos esses abordados no filme “O Céu de
Outubro”, por meio de discussão.
A atividade baseou-se em um artigo escrito por Mortimer e Scott (2002)
intitulado “Atividade discursiva nas salas de aula de Ciências: uma ferramenta
sociocultural para analisar e planejar o ensino”. Esse artigo propõe uma
ferramenta analítica sociocultural para analisar tanto no que se refere aos aspectos
do discurso do professor como em relação às interações professor/aluno, que
resultam na construção de significado em aulas de Ciências.
Sabendo da necessidade de se tornar visíveis as práticas discursivas em sala
de aula, os autores Mortimer e Scott (2002), em um de seus artigos, apresentam
mecanismos para a análise das interações e para a produção de conhecimentos
científicos significativos. Segundo os autores, a atividade discursiva é essencial
para as diversas ações diárias desempenhadas pelos professores em sala de aula.
A análise discursiva proposta por Mortimer e Scott (2002) se focaliza no papel
do professor e apresenta cinco aspectos de análise que se inter-relacionam,
agrupadas de acordo com os focos do ensino, a abordagem e as ações, conforme
apresentado no Quadro 1:
Quadro 1: Ferramenta de Análise das Interações e Produção de Significados em Sala de
Aula de Ciências
Aspectos de Análise
i. Focos de ensino
1. Intenções do professor
2. Conteúdo
ii. Abordagem
3. Abordagem comunicativa
iii. Ações
4. Padrões de interação
5. Intervenções do professor
Fonte: Mortimer e Scott (2002).
Na atividade realizada, analisamos somente um aspecto dos focos de ensino,
qual seja, as intenções do professor. Mortimer e Scoot (2002) consideram que o
ensino de Ciências produz um tipo de performance pública” na sala de aula,
atividade em relação à qual cabe ao professor planejar, apresentar e dirigir as
etapas nas aulas de Ciências, sempre com o objetivo de desenvolver a “estória
científica” no plano social da sala de aula. O desenvolvimento desse roteiro é uma
das intenções do professor.
Entre as intenções identificadas pelos autores estão: criando um problema,
explorando a visão dos estudantes, introduzindo e desenvolvendo a “estória
científica”, guiando os estudantes no trabalho com as ideias científicas e dando
suporte ao processo de internalização, guiando os estudantes na expansão do uso
das ideias científicas e na expansão de seu uso, transferindo progressivamente
para eles o controle e responsabilidade por esse uso e mantendo a narrativa,
sustentando o desenvolvimento da “estória científica”.
O FILME “O CÉU DE OUTUBRO”
No final dos anos 1950, o adolescente Homer Hickam vive na cidade de
Coalwood, oeste da Virgínia, onde a mineração é a maior empregadora local. O
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filme começa contando sobre a “corrida espacial” entre os Estados Unidos e a
Rússia, quando, em 1957, os russos lançaram ao espaço, o Sputnik. O fato inédito
foi o estopim para Homer começar a sonhar em construir o seu próprio foguete.
Logo ele convence seus amigos a participarem da feira de ciências e, com o apoio
da sua professora de Ciências, dão início ao projeto.
Na cidade, o destino da maioria dos jovens era o trabalho na mina e somente
aqueles que se destacavam nos esportes conseguiam uma bolsa de estudos em
alguma universidade. Com pouca aptidão para o esporte, mas com a intenção de
fugir do destino de minerador, Homer buscou em uma feira de ciências o caminho
para a faculdade.
Mesmo após inúmeras tentativas frustradas na construção e lançamento do
foguete, o grupo de meninos não desistiu, venceram a feira de ciências do colégio
e puderam participar da Feira Nacional de Ciências, a qual ofertou bolsas de
estudos em universidades para os ganhadores. Homer participou como
representante do grupo e foi destaque na feira, sendo seu vencedor.
A ESTRATÉGIA DE ENSINO
A realização da atividade, da qual resultou a elaboração deste trabalho,
ocorreu nas seguintes etapas: a pesquisa teórica, o desenvolvimento da atividade,
que inclui a coleta de dados, e a análise dos resultados obtidos.
Primeiramente, foi elaborado um questionário em escala Likert, considerando
os contextos retratados no filme em estudo, para que as questões fossem
respondidas pelos estudantes com base nos seus conhecimentos prévios, ou seja,
a partir das percepções que eles tinham sobre os contextos familiares, políticos,
históricos, sociais e a atividade científica voltada para a feira de ciências, contextos
abordados no filme “O Céu de Outubro”.
Posteriormente, direcionamos os estudantes para identificarem os seguintes
contextos: familiar e cultural; social, econômico e político; escolar e relacionado à
atividade científica. Em seguida, os estudantes assistiram ao filme na íntegra, ao
que, então, se procedeu uma discussão, que foi totalmente áudio gravada,
especificando a relação entre pais e filhos, professor e estudantes, expectativas de
uma carreira profissional, círculos de amizades, a cultura local, a mina como única
fonte de renda, o ensino de Ciências, bolsas de estudos, feira de ciências e o
lançamento do foguete Sputnik como fator motivador de pesquisa científica.
Decorridos 14 dias da realização da atividade, propusemos novamente o
mesmo questionário aos estudantes, a fim de analisar as percepções antes e
depois do filme. É imprescindível ressaltar que o foco para a realização deste artigo
foi somente a análise da discussão realizada após os alunos assistirem ao filme.
TRANSCRIÇÕES DAS FALAS
A discussão realizada após o término do filme, ou seja, as falas dos estudantes,
da professora e das acadêmicas do PIBID, foram gravadas e transcritas
literalmente, reproduzindo fielmente as falas realizadas no momento da atividade,
sem a substituição das palavras faladas em nenhum momento da transcrição,
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sendo considerados os aspectos fundamentais, como as pausas e prolongamento
de vogal, no momento do registro (THOMPSON, 1992).
A autorização para uso de som e imagem é fornecido pelos responsáveis dos
estudantes no ato de matrícula. A fim de padronizar, para que pudessem ser
facilmente interpretadas, utilizamos as normas de transcrição que são detalhadas
no Quadro 2 a seguir, no qual se apresenta o significado de cada convenção
empregada. Após a transcrição das falas, seguimos para a análise delas.
Quadro 2: Principais Sinais Acordados em uma Transcrição no Brasil
Sinais
Normas Acordadas em Transcrição de Dados
...
Para indicar qualquer tipo de pausa
( )
Para indicar hipótese do que se ouviu
(( ))
Para inserção de comentários do pesquisador
::
Para indicar prolongamento de vogal ou consoante. Ex.: “éh::”
/
Para indicar truncamento de palavras, como, por exemplo: “o pro/ ... o
procedimento”.
--
Para silabação de palavras. Ex.: “di-la-ta-ção”
Fonte: Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades brasileiras,
europeias e africanas, coordenado por Silvia Rodrigues Vieira e Maria Antónia Ramos
Coelho da Mota
2
.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A atividade desenvolvida busca enfatizar a importância da intervenção do
professor nas discussões dos alunos e seus objetivos, podendo incentivá-los a
participar da discussão ou reprimi-los, dependendo da maneira como ele medeia
o debate. Busca desenvolver uma linguagem para o discurso dentro de sala de
aula, ou seja, analisar como diferentes formas de abordagem se associam às
intenções do professor em várias fases no desenvolvimento da aula. A partir dessa
metodologia, de Mortimer e Scoot (2002), foram analisadas as transcrições da
discussão do filme: “O Céu de Outubro”. Toda a discussão foi mediada pela
professora para manter o foco dos estudantes nos temas abordados, nos quais
todas as respostas foram consideradas.
TRANSCRIÇÃO DA AULA: "DISCUTINDO O FILME 'O CÉU DE OUTUBRO'
Nas transcrições das falas foram utilizadas codificações, sendo P (P1 até P3)
para as integrantes do PIBID (acadêmicas participantes da discussão), S para a
professora supervisora e regente da turma, e E para os estudantes, sendo En
quando vários estudantes falam ao mesmo tempo.
Episódio 1
P1: Então vamos falar discutir um pouco mais o contexto social político e
econômico... qual é o contexto que o filme se passa?
E1: A guerra fria?
E2: No tempo da guerra fria...
E3: União Soviética...
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P1: Isso no começo... no início do filme... o que foi lançado?
En: O Sputnik...
P1: Sim... e o Sputnik era::? Foi o::?
En: Éh:: ((pensativos))
P1: O que antecedeu então ah:: a guerra fria... e o que os moradores da cidade
pensavam quando foi lançado?
E4: Que era espionagem...
P1: Que era a espionagem... então vocês acham então que uma guerra pode
motivar pesquisas de iniciação cientifica?
En: Sim...
E1: Lógico...
P2: Vocês conhecem algum outro fator que partiu da guerra?
E5: Sim...
P2: Qual?
E2: GPS...
P2: GPS...
En: ((muitos estudantes estavam discutindo entre eles nesse momento))
E1: Não seria mais pela necessidade ((não compreendemos))?
P2: Necessidade? Silêncio pessoal... vamos prestar atenção aqui...
E1: Se a gente for ver antigamente no Brasil quando eles começaram fazer as
vacinas e teve aquela revolta das vacinas as pessoas não sabiam o que eram e pra
que serviam... só tipo eles foram contra o que eles tinham para curar...
P2: Ahamm... muitas tecnologias surgem e as pessoas elas não têm
informação suficiente pra saber o quanto que aquilo é importante né ou não... a
que ponto nos afetam né... que foi o problema que não foi um problema né... eh::
o satélite trouxe assim foi o início de uma nova era né... início de uma nova
tecnologia... que muitos não têm conhecimento e acabam tendo outros olhos
que nem você falou o motiv/ as vacinas trouxe uma revolta... lógico foi uma falta
de informação mais alguma observação...
Nesse episódio, a discussão se iniciou com a professora e as integrantes do
PIBID convidando os estudantes a participarem do debate e oferecerem as suas
ideias sobre os aspectos sociais e políticos abordados no filme, engajando-os a
identificarem a época de ocorrência do filme e sobre os acontecimentos históricos
do filme.
O foco de ensino e as intenções do professor são apresentados a seguir, no
Quadro 3: